sublinhar

sexta-feira, setembro 19, 2003

O Poeta

Triste, lá vai à ronda dos segredos
O maluco que rouba quanto vê
Branco, do coração aos dedos,
É todo antenas onde apenas lê.

Murcha-lhe nos pés o rosmaninho
E a própria rosa, de o sentir, descora:
Mas é um Deus que passeia o seu caminho
A beber a amargura de quem chora.

Magro, lá passa, e lá se vai consigo
A luz das coisas e a flor de tudo
É um bruxo lento, tenebroso e antigo,
Pálido, sério, solitário e mudo.

Miguel Torga
in Diário Vols. I a VIII(Dom Quixote)