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quarta-feira, outubro 29, 2003

9. [Diário...]

A história que tenho para contar é simples… e no entanto que complicada é a história que tenho para vos contar.
Ontem. Eu parado junto à paragem esperando o autocarro. Uma mulher parada lá longe olhando a montra da pastelaria. Depois de uma breve hesitação ela começa a andar, aproxima-se. Detém-se de novo, olha a montra de uma loja de tintas. Hesita, volta a andar, detém-se de novo, agora entra na loja seguinte. Sai. Aproxima-se cada vez mais, entra na loja mais perto do sítio onde estou parado, uma lavandaria. Sai breves momentos depois. Volta, hesitante, à montra da pastelaria.
Eu penso: Está à espera de um autocarro; está à espera de alguém.
Alguém. Um homem detém-se junto dela. Falam um minuto no máximo. O homem afasta-se, ela continua ali, junto à pastelaria. Hesita de novo e caminha na direcção onde eu estou.
Eu penso: O que está ela a fazer?
Fica a um metro de mim, junto à montra da lavandaria. Olha a montra. Agora olha também para mim, de vez em quando. É natural eu estava a observá-la.
Eu penso: Está triste. Quase se formam lágrimas nos seus olhos.
Ela parece hesitar. Não sei entre o quê, mas hesita, sente-se que hesita.
Olha-me. De repente parece decidida, faz um gesto de movimento para onde eu estou. Mas não se mexe. Fica parada e olha para mim, mais vezes.
Eu penso: Não percebo. Digo qualquer coisa? O quê? Ela está muito perto e olha para mim, mais vezes. Agora sou eu que hesito. Não percebo nada.
Ela recomeça a andar. Estava parada ao meu lado esquerdo, desce um pouco a rua e detém-se ao meu lado direito.
Eu penso: Ela está a olhar para mim porque eu estava a olhar para ela, ou por outro motivo?
Ela continua a olhar para mim. Continua triste. Eu acendo um cigarro.
E penso: Se ela quiser falar pede-me um cigarro, ou lume, ou sei lá.
Ela afasta-se exactamente no momento em que acendo o cigarro. Ela desce a rua. Eu continuo à espera do autocarro.
E penso: Nunca mais vem.
Alguns minutos depois ela volta. Passa por mim. Fica parada junto à montra da loja das tintas. Está a fumar.
Finalmente chega o autocarro. Muita gente para entrar. Ela avança na direcção onde eu estava, eu entro no autocarro. Ela detém-se na rua, junto à farmácia. Eu vou.
Eu penso: Quem eras tu? Porque estavas triste? E agora?

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