sublinhar

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Memórias de papel (1)

(A propósito da leitura do livro "A Terceira Rosa")

Há mais de um ano que acordo
Banhado no suor do meu corpo,
Respirando depressa e gritando
Vendo o teu rosto e o teu corpo morto

Lembro o teu sorriso mal acordo.
Não acredito, grito e choro.
Telefone-te em seguida, outra vez,
Tu dizes amo-te. Eu acredito e coro.

Todo o dia lembro a tua morte no sono
E vivo agitado, e depois telefono
E tu acalmas a minha paranóia
Com um sereno beijo electrónico

À noite, na cama, lembro-te de novo
E rezo para não mais ver o teu corpo
Inerte, gelado e sorridente
Durante o meu sono absurdo de vidente.

Quando escrevi isto ainda não tinha lido o livro de M. Alegre. O sentimento era então mais forte mas a escrita mais frágil. Mas ainda assim, penso que vale como uma bonita imagem do fim da minha inocência e da descoberta da morte*.

* Morte figurativa, mas nem por isso menos dramática.