on the b.l., again
Surpreendo-me a mim próprio encaminhando as palavras para um precipício cheio de nada. Reconheço o ardor nos dedos que primem as teclas com uma lentidão compassiva, como frágil reflexo dos músculos tensos de um corpo que desliza para o chão procurando o descanso. Lembro-me ainda de tudo. Sobretudo do abismo. Reconheço-o de regresso, a cada passo. De repente, e isto não se vê nas palavras, levanto-me e saio de casa, procuro o primeiro café aberto, entro, e deixo-me maravilhar (nesta palavra, um exagero que não existe para quem como eu, hoje) e só isso impede que me esqueça do que sou. Minutos depois fumo um cigarro no ar frio da noite. Enquanto entro no carro olho de relance a janela iluminada de um apartamento qualquer e imagino. Depois seguro entre os dedos o cigarro, ligo o carro, o rádio inicia uma música que desperta uma memória qualquer. Depois regresso às palavras e elas ainda apontam para o abismo, regresso e por mais que resista elas entrepõem-se entre mim e o futuro. Dimensões. Reconheço este passo e os outros. Já bebi desta noite em outra vida. Apetece-me gritar para que desliguem as câmaras e me deixem estar sozinho.
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