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quarta-feira, agosto 25, 2004

Calendário

O escritor tem à sua frente um calendário, mês de Agosto de 2004, uma figura: um avião sobrevoando o mar. O escritor pensa no decorrer dos dias, analisa um a um tentando atribuir-lhes um significado. Não consegue e por isso imagina um romance. A história do romance começa no dia 1 de Agosto de 2004, e termina no dia 31 de Agosto de 2004. O escritor vê a personagem principal, uma mulher ainda sem nome, parada numa estação de metro, são vinte e duas horas e vinte e dois minutos do dia 1 de Agosto de 2004, na estação apenas se encontra a mulher. Ela tem um leve vestido branco, sandálias também brancas, vem da direcção da praia pensa ele (ele é o homem, também ainda sem nome) que entra neste momento (são vinte e duas horas e vinte e dois minutos do dia 1 de Agosto de 2004). Agora estão os dois frente a frente, um em cada um dos lados da estação. A carruagem que ela espera aproxima-se, ela entra, e parte. Ele fica só. Nesse momento, são vinte e duas horas e vinte e quatro minutos. Um minuto depois entra outro homem na estação, há uma ténue troca de olhares, sentam-se. Chega a sua composição, pára, eles entram, e parte. Eles, o homem e a mulher, vão se encontrar de novo apenas no dia 31 de Agosto de 2004, ele estará deitado numa cama de hospital vítima de um atentado, ela passará pela sua cama no preciso momento em que ele morrerá, serão vinte e duas horas e vinte e três minutos do dia 31 de Agosto de 2004. Apesar de se olharem por um momento nenhum dos dois se reconhecerá. O romance acaba aí. O escritor pensa: é apenas um mês, duas pessoas, uma cidade, uma história. Escreve ainda: E se um dia o teu pesadelo se transformar em vivida realidade, queres uma flor azul sobre o teu túmulo vazio?

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