sublinhar

terça-feira, novembro 16, 2004

intermezzo

Lembro-me de quando descobri a metáfora, lembro-me que pensei que era tão simples que nunca mais iria escrever uma vulgar comparação. Lembro-me assim de repente e acho piada aos pensamentos que tinha e sobretudo a lembrar-me deles. E lembrei-me porque ia começar mais uma frase com a palavra como. A frase era: como se houvesse uma pressão sólida sobre o meu peito que me impelisse para o silêncio. Queria sugerir uma imagem, de um sonho: um tecto que comprime o peito do homem que dorme e que o sufoca tornando-o incapaz de gritar. Um sonho que nem é meu. Mais uma vez um segredo: escrevo essencialmente para não esquecer o que sou. E aqui vai: como se as palavras tivessem a consistência da pedra e me dessem no mundo um lugar mais duradouro onde permanecer. Porque, insisto, há uma torrente de eventos a acontecer a cada milésimo de segundo, uma torrente de eventos que interagem entre si, e tudo, a nossa vida o nosso amor, se resume a isso. Há ainda a imagem: de um homem e uma mulher que se amam hipoteticamente e toda a vida falham o encontro. A isto chama-se romantismo pessimista suponho eu. Felizmente não acontece sempre. Gostava de dizer: a estas palavras falta um sentido. Mas é precisamente isso, estas palavras têm o preciso sentido de esconderem as poucas palavras que me sinto capaz de dizer. Por agora. Repito: como se o mundo me comprimisse de encontro a uma parede e todos tivessem que aguardar que recupere e, então, possa dizer:____________________________________
O silêncio encontra as palavras no chão, e brinca com elas, juntando-as. Ainda: como um insecto demasiado perto da chama, percebendo o perigo que corre e ainda assim ansiando aquele contacto, mais que tudo. Queria dizer-te:_________________________________
…mas é o silêncio ainda quem responde. Porque imagina que digo: não posso perder mais um minuto da minha vida longe de ti ou enlouqueço. Isto iria só querer dizer que existe ainda uma fila descontínua de memórias que persistem em sabotar os meus passos. Daí a necessidade do salto…ou da queda. Mas esta é uma construção demasiado rebuscada até para mim. Como se existisse um lugar da memória para voltar ou o futuro não fosse tudo que quero.
Mas quero agora, importas-te?
Para já, junto palavras caóticas ao caótico sentido das palavras já escritas. Amanhã tentarei dizer simplesmente: quero-te.

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