sublinhar

sábado, julho 19, 2003

Fragmentos (1) – Também um objecto quase desaparecido

As minhas recordações de infância confundem-se amiúde com um rectângulo verde feito de cartão. Lembro-me de acordar ás sete da manhã do primeiro dia das férias de verão, e descer as escadas da casa, ainda adormecida, dos meus avós, para instalar esse rectângulo mágico na mesa da sala.
O rectângulo, como alguns advinham, era a peça chave de um jogo chamado Futebol de Mesa. Era ainda um tempo onde a criança, eu, tinha que movimentar manualmente todos os onze jogadores de cada equipa. Onde a imaginação não era potenciada por lindos gráficos mas voava livremente a partir de um pedaço de cartão verde. E esse cartão levou-me a conhecer todos os países do mundo (eu tinha a megalomania de fazer campeonatos que envolviam todos os países do meu velho atlas), levou-me a descobrir a diferença e a parecença que existe nessa diferença.
A esse pedaço de cartão, e aos vinte e dois bonequinhos que o acompanhavam, devo os momentos mais felizes (também porque dos mais ingénuos) da minha vida.
Tenho agora à minha frente um exemplar desse cartão e amo-o, com o amor que guardo para a criança que fui.

[in I. D.]

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