Diário do Farol
Embora sem tempo para estar em casa e escrever para o blog, tive tempo (graças a longas viagens em transportes públicos) de ler o mais recente romance de João Ubaldo Ribeiro: “Diário do Farol” (Dom Quixote). Trata-se de um diário de um homem Mau, ou melhor de um homem que está para além das distinções entre o Bem e o Mal. A escrita é crua e obsessiva tal como o personagem/narrador. E o ponto forte do livro é confrontar-nos com a nossa própria maldade, ou a nossa ilimitada capacidade para a maldade.
O personagem/narrador é um homem desde cedo maltratado por um pai tirânico, capaz de matar a sua mulher para casar com a irmã dela e de obter um prazer especial em torturar o filho. Depois da morte da mãe o narrador decide assumir a tarefa de a vingar e de vingar o sofrimento por que passou.
Mas insisto, o grande poder do livro está em nos confrontar com a ideia que não há qualquer diferença entre este homem capaz de praticar os actos mais tortuosos e nós próprios ou qualquer pessoa que conhecemos. Este livro confronta-nos com um dos nossos maiores medos: o facto de qualquer serial-killer, qualquer carrasco, ser na essência um ser humano igual a nós.
Infelizmente é também aí que está o maior defeito deste livro, ao partir de uma personagem maltratada durante toda a infância o autor fornece-nos a “desculpa” para tratarmos esta personagem como o “outro”, objectivamente diferente de nós. Porque os últimos séculos têm sido pródigos em nos dar como explicação para o comportamento das pessoas Más ou a hereditariedade ou os abusos da infância. Por isso, é com facilidade que seguimos o percurso tortuoso deste personagem sentindo apenas uma remota proximidade, que não chega para nos assustar realmente.
Ainda assim o livro por vezes consegue nos confrontar com esse lado esquecido de todos nós.
PS: Duas notas finais para duas características da escrita de João Ubaldo: o erotismo e o humor. O erotismo assume nesta obra, tal como para o personagem/narrador, um sentido utilitário, muitas vezes violento, também o erotismo é neste relato uma confrontação com o leitor. Quanto ao humor, este parece à primeira vista estar ausente deste livro, mas está lá – insidioso e questionador como tudo o resto, mas presente sem dúvida.
O personagem/narrador é um homem desde cedo maltratado por um pai tirânico, capaz de matar a sua mulher para casar com a irmã dela e de obter um prazer especial em torturar o filho. Depois da morte da mãe o narrador decide assumir a tarefa de a vingar e de vingar o sofrimento por que passou.
Mas insisto, o grande poder do livro está em nos confrontar com a ideia que não há qualquer diferença entre este homem capaz de praticar os actos mais tortuosos e nós próprios ou qualquer pessoa que conhecemos. Este livro confronta-nos com um dos nossos maiores medos: o facto de qualquer serial-killer, qualquer carrasco, ser na essência um ser humano igual a nós.
Infelizmente é também aí que está o maior defeito deste livro, ao partir de uma personagem maltratada durante toda a infância o autor fornece-nos a “desculpa” para tratarmos esta personagem como o “outro”, objectivamente diferente de nós. Porque os últimos séculos têm sido pródigos em nos dar como explicação para o comportamento das pessoas Más ou a hereditariedade ou os abusos da infância. Por isso, é com facilidade que seguimos o percurso tortuoso deste personagem sentindo apenas uma remota proximidade, que não chega para nos assustar realmente.
Ainda assim o livro por vezes consegue nos confrontar com esse lado esquecido de todos nós.
PS: Duas notas finais para duas características da escrita de João Ubaldo: o erotismo e o humor. O erotismo assume nesta obra, tal como para o personagem/narrador, um sentido utilitário, muitas vezes violento, também o erotismo é neste relato uma confrontação com o leitor. Quanto ao humor, este parece à primeira vista estar ausente deste livro, mas está lá – insidioso e questionador como tudo o resto, mas presente sem dúvida.