sublinhar

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

...


Primeiro foste um nome
ainda não eras tu mas pertencia-te
Depois foste um corpo
apenas ossos – disseste
Por fim fizeste-te ouvir
Na voz com que me acariciaste
voaste para mim inteira
Nesse momento percebi
que envolvendo o meu desejo
tu abrias as asas
para me abraçar


Dir-te-ei todos os dias que me fazes falta
mas conseguirei algum dia significar-te
a falta que me fazes?


Que sabem umas das outras as pessoas
nos encontros e desencontros dos olhares
nos gestos e sinais efémeros
nos rituais da circunstância
nas inércias que preenchem os dias?
Que sabem umas das outras as pessoas
quando o enigma as toca e aproxima
na discreta eloquência dos silêncios
que parecem gritar à eternidade?
Que sabem umas das outras as pessoas
quando as palavras reflectem o indizível
e o modo da renúncia veste a farda da indiferença
no jogo patético das distracções?
Que sabem umas das outras as pessoas
no espaço e no tempo em que acontecem
quando se convidam a afrontar a memória
e partem à descoberta de si mesmas?
Ademar Ferreira dos Santos

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