sublinhar

terça-feira, março 01, 2005

só para matar o tempo

Escrever serve essencialmente para matar o tempo, é mais ao menos como passar tardes a ver gatos vadios no grande quintal do centro da cidade. Eu fazia isso em criança, depois abria livros do novo testamento, ilustrados, muito ilustrados. Nesse tempo gostava de velas, por isso gostava da procissão nocturna do 12 de Maio, partia da igreja em frente e, engraçado, passava por algumas ruas secundárias fugindo ao centro da cidade, nunca percebi porquê. Mas nunca me vestiram de anjo pela Páscoa, da primeira vez que tentaram eu fartei-me de chorar, suponho que, já então, não queria ser anjo. Desconfio mesmo que queria ser pecador, uma coisa que deve acontecer frequentemente a quem estuda num colégio católico.
Como eu dizia, escrever é essencialmente passar o tempo. Porque pousei o livro do l.f. veríssimo em cima do sofá e me sentei ao computador para, creio, fazer um trabalho para empresa. Mas não fiz.
Escrever, sempre me parece que Borges tinha razão, é antes de mais uma aprendizagem da leitura. E de nós. Que freudiano que eu ando. Mas, a sério, escrever, e acho que é o único motivo pelo qual escrevo, dá-nos um contacto mais próximo com o acto de ler. E ler é um dos grandes prazeres. Bom, não posso esquecer o prazer de comer uma manga numa tarde de verão, ou de um vinho. Claro que não me posso esquecer do sexo, mas isso, convenhamos, nunca esquecemos.
Escrever é essencialmente matar o tempo, e por hoje, para mim, já chega.

Esta é uma boa hora para dormir.

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