sublinhar

terça-feira, novembro 02, 2004

Como as palavras surpreendem o seu interlocutor, o homem que escreve.

Aviso desde já que nada do que aqui se dirá é, ou será, realidade ou até reflexo de realidade. Porque nada vou dizer sobre esses momentos, enquanto a chuva lava o pouco de memória que existe em nós e nos abraçamos no passado. Aqui o assunto, a existir assunto, é o momento que antecede o sonho e que em vão tenta alcançar o momento do próprio sonho. Imaginem portanto uma mulher a ver a telenovela sentada no sofá vermelho de sua casa, o telefone toca, ela levanta o auscultador e apercebe-se que se disser sim a uma pergunta que lhe foi feita o futuro, isto é os dias que se seguem (para sempre?) serão diferentes. Ela diz sim. Posso dizer que está feliz mas nem por isso deixa de sentir um frio que antevê nos dias de inverno que se seguem e em que inadvertidamente (mesmo que o pense antecipadamente, como faz) se irá molhar em vez de estar, como está agora, a ver tv sentada no sofá de casa. Esse sofá é vermelho. A seguir, e porque estas coisas requerem que seja seguida uma qualquer lógica cósmica, e que o Sr. Darwin me desculpe esta pequena mentira, que a leva a levantar o auscultador do telefone, a marcar um número que sabe de cor e... não vamos entrar na intimidade desta conversa, nem isso é necessário, esqueçam portanto. Retomemos o assunto, agora que é já outro dia e a mulher acorda feliz e se dirige para o emprego. Num lugar distante um homem suicida-se mas não tem nada a ver com esta história, é só uma noticia que ela lê no jornal. Depois, o dia passa, anoitece, e finalmente ela e a primeira voz encontram-se. Agora é só encher a história de reticências porque as banalidades são interessantes para quem as vive mas para quem as lê chega a frase do felizes para sempre. Apenas importa referir que do outro lado da linha, podemos chamar da linha número dois, a segunda voz anoitece em silêncio.

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