sublinhar

segunda-feira, janeiro 17, 2005

un día

lembro-me que tinha medo de não te reconhecer se passasse por ti na rua. ao mesmo tempo achava, desde um desses primeiros minutos, que se isso acontecesse sem que o soubéssemos, o mundo todo iria pressentir que alguém, nós dois, estaria a ocupar o espaço implícito dos sonhos. esse é o espaço. como quando penso que tu já estiveste aqui nesta sala em que escrevo, na outra sala ali ao lado, no café ao fundo da rua, na minha cama…em todo o lado. consigo ver-te aqui, nos muitos momentos em que te quero dizer alguma coisa. coisas simples, de um filme que vi, de um texto, um poema, ou só de uma história qualquer no emprego. tu existes mais vezes do que pensas. e em mais lugares. por exemplo: um dia de março, eram seis da tarde, ia a caminho do café como quem chora, chovia, e de um longo silêncio apareceste tu. como um sonho. chorei encostado ao teu ombro. como se fosses uma invenção minha para que eu pudesse existir. um dia também estiveste perto de chorar mas se bem me lembro, interrompeste-te, e mandaste-me à merda, delicadamente. mas sabes? é sobretudo o riso, o sorriso, a infinidade de palavras não ditas. um dia, vamos dizê-las? fazes-me pensar que o mundo ainda é um lugar onde o sonho existe. e a beleza, assim, sem mais. simplesmente.

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