sublinhar

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Do regresso às mesmas palavras

Eu devo alojar os meus sonhos
naquela pasta preta, guardada
ao fundo do armário velho
da casa da minha avó.


Esse armário existe no propósito de lá colocarmos coisas assim: as tardes de criança, o dia em que fumei o primeiro cigarro ao som dos Doors, as tardes de sol que passei cantando coisas absurdas para um gravador desengonçado.
A existir, digamos que existe, esse armário, existe lá dentro uma pasta preta, como aquela que o meu tio tinha. Estava cheia de memória, a pasta do meu tio, cheia de recortes, fotografias e coisas. Não era fácil perceber aquela pasta, nem o meu tio. Perceber, suponho, não é fácil.
Mas acredito que tenho uma pasta assim, num armário qualquer. Porque em algum sitio eu guardei o tabuleiro verde (pedaço de cartão) onde, tarde após tarde, passei as horas de infância a jogar futebol de mesa. O relvado, os jogadores, a imaginação minha daquela época. Deve existir um sitio onde isso está guardado. Um sitio físico, que contrarie os dias em que me esqueço.

Hoje pensei: já alguma vez alguém perguntou a um escritor de uma autobiografia se aquele livro teria alguma coisa de autobiográfico? É que a memória traz-nos estas surpresas. Quanto de nós esquecemos? e porque supomos que aquilo que guardamos é de facto o mais importante?

Eu gostava de saber o que estava a fazer na tarde do dia 23 de Maio de 1985. Gostava, pronto. Sem nenhum motivo em especial. Gostava.

1 Comentários:

  • Deve estar guardado na nossa memória que é muito selectiva nas imagens que liberta quase de uma forma alietória.

    Por Blogger hfm, Às 9:52 da tarde  

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