sublinhar

domingo, fevereiro 13, 2005

Estranha ficção

Leio na Actual do Expresso da semana passada (leituras atrasadas):
Dentro de pouco tempo, quando todos estivermos mortos (…)
Já ninguém poderá atrever-se a descrever o que foram as enfermarias dos campos, os barracões de inválidos, a tentar fazer compreender, a sugerir, pelo menos, o que foi o cheiro dos fornos crematórios, daquelas nuvens de impalpáveis cinzas sobre os campos da Polónia e da Alemanha. (…)
Mas, se não há memória de verdade, vivaz e verídica, quem contará às novas gerações, às dos nossos netos, aquela história? Quem transmitirá essa memória? A única possibilidade de que isso ocorra é que a ficção narrativa se apodere desta matéria histórica. (…) Jorge Semprún


Fico a pensar: essa ficção parece hoje impossível, impúdica, mas é, necessariamente, no interior das palavras ficcionais que se encontrará a fórmula que permita dizer do horror de um tempo assim. Como acontece muitas vezes, a ficção terá que ser o intermediário entre a história e o nosso sentimento, para que no futuro, não apenas se perceba, mas se chegue o mais perto possível de sentir, essa absurda loucura humana. Mas será que existem palavras para uma tão estranha ficção?

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