sublinhar

sábado, março 20, 2004

Caminhos

Gerês, Bouça da Mó, 23 de Julho de 1945
Vai daqui a Roma sem parar… - garantiu-me o guarda-florestal, a mostrar-me pela serra fora o piso aliciante da geira romana.
- Vai.. Vai… - respondi-lhe eu, a tirar da esperança universal de que todos os caminhos vão dar a Roma uma filosofia sem complicações.
O rio Homem (que assombroso nome para um rio!), em baixo, passava no seu calvário de carne e osso; do lado de lá, a Serra Amarela erguia-se abrupta; com as suas casarotas enigmáticas no alto; sobre a minha cabeça, hirto, pendia o pico do Cabril; de maneira que nenhuma metafísica era possível ali.
- E que tal esta solidão? – quis saber eu.
- Triste… - respondeu o eco de um queixume. – Sempre aqui neste ermo…
«Vai daqui a Roma sem parar», pus-me a reflectir outra vez. E percebi então, de repente, a sedução mágica dos caminhos e o desespero amargo das sentinelas.
Miguel torga

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]



<< Página inicial