Estas ruas
Estas mesmas ruas em que caminho e das quais me despeço, e onde amanha irei caminhar de novo e me despedir outra vez. Estas ruas que conheço e me habituei a percorrer de olhos bem abertos, focando cada pormenor, cada pequena alteração. Estas ruas de pedras antigas, de ruídos antigos, de comércio anacrónico. Estas ruas de tascas de onde em dias quentes como este sai um cheiro enjoativo de vinhos e fritos, estes sons que através janelas abertas das casas invadem a rua, comunicando pelo ar as notícias de Portugal e do mundo. Estas ruas que conheço e desconheço e das quais me despeço. Numa despedida que, no fundo, existe desde sempre e que se renova a cada dia. E nestes dias assim, em que sou invadido pelo sol, e todos os projectos parecem realizáveis, caminho por estas ruas como se elas fossem do passado, e todos os ecos que me chegam são a repetição de ecos do passado, das tardes sonolentas naquela casa, e, apesar de tanta gente ter desaparecido, estas ruas em que caminho são essas outras ruas em que fui criança. E este eu que aqui caminha é um outro eu que já partiu, para sempre.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial