sublinhar

sábado, março 06, 2004

Fragmentos de intimidade (2)

(Uma espécie de silêncio, marcado pela tua presença-ausência. Falamos, em silêncio, escrevemos. Estás aqui. Eu estou aí. Estamos. Nós.
Falas-me de amor e eu fico embaraçado.)
- Ouvi agora o teu riso – Escreves.
- Ris-te? – Perguntas numa dúvida que não é bem uma dúvida.
- Ri. – Respondo.

(Por vezes nem acredito em tudo isto. Não acredito que existas. Que me ames. Que tu sejas assim como és. Mas o que consigo dizer é:)
- Estou muito feliz.
E tu perguntas:
- És muito querido, sabias?

- Tens-me dito...mas tenho dificuldade em acreditar. – (Digo eu, que ainda duvido que possa haver alguém como tu. E, para acreditar peço:)
- Tens que dizer mais vezes.
E tu repetes:
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido

(E eu deixo-me ficar a ver as palavras a formarem-se no ecrã. E sinto apenas que te quero, perto de mim. Quero estar junto a ti. Saudades do teu corpo. E brinco, para dizer qualquer coisa, para não ficar calado. Para não enlouquecer por causa da distância.)
- Está bem...tem calma...já acredito
E tu repetes:
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido
- És muito querido

(Numa interminável série de palavras-sentimentos.)
- Está bem, acredito.
- Mesmo?
- Acredito em ti, só porque tu és tu.
(E confesso-me:)
- Tu facilitas o eu ser assim, liberto, eu, mesmo eu
Tu também és assim querida
Afectuosa
Gosto da forma de te entregares aos projectos e às pessoas
És bonita por isso.
E também porque és bonita, sem isso
És bonita, sei lá
Bonita sempre.
(Tudo palavras aquém do que tu és. Aquém da tua beleza.)

(E entro no campo das intimidades breves, dos teus gestos, dos teus hábitos, de todos os pormenores que amo em ti.
E brincamos com palavras, sobre os teus gestos, os teus monólogos…. E os meus absurdos.
Cada um de nós vive o outro, em memória.)

(E depois, umas palavras que encontras levam-me a transpor tudo aquilo que sinto:)
- Estou sem palavras,
ou com palavras,
com palavras grandes,
só palavras grandes,
enormes,
conjugadas contigo,
por ti,
em ti.
AMOR
AMIZADE
VIDA...VIVER
FELICIDADE
Até tenho medo de estas palavras serem eu contigo. Serem nós. Em palavras.
É tão bom dizer-te tudo que quero dizer… o que sinto...o que sou
É tão bom poder ser eu...e viver...feliz porque tu estás aí
EXISTES
Me ouves.
Falas
Os teus pensamentos que eu penso… e penso….e penso, porque são teus, e eu gosto de viver neles, com eles.
Os teus sentimentos, que são teus, meus, nossos.
E os teus medos que partilho…de fora…entrando…procurando entrar…sentir como tu.
Sem esforço
Só sentindo
A ti

Apetece-me beijar-te
- Também a mim. – Respondes num murmúrio.
- Segurar-te.
Abraçar-te
Sentir o teu corpo.
- Deu-me uma vontade... um Desejo de estar contigo... – Diz-me a tua voz murmurada, outra vez.
- Se fecho os olhos...olho para ti
Vejo-te também a olhar para mim.
E, qualquer coisa como a PAZ, me invade
É tão bom estar contigo, partilhar contigo
Ser contigo
Ser, até, por ti

(E reentro na memória sensitiva:)
- Os teus braços
A tua pele
O teu calor
- Vem – Pedes.
- Vou.
Vou...até ao teu sorriso,
ao teu movimento,
ao teu cheiro,
ao sabor do teu corpo,
aos beijos,
ao sentir o teu corpo junto ao meu.
Vivendo como se tudo fosse apenas o teu corpo
Beijar-te com calma…. e com a fúria de querer muito, muito, muito.
Beijar as tuas costas, rodar o teu corpo e olhar o teu rosto (os teus olhos outra vez – a forma como me olhas), e rever os leves movimentos do teu corpo me fazem não conseguir resistir a beijar-te de novo, a querer beijar-te com urgência, querer trincar-te, segurar-te, e de novo beijar-te, e amar-te.
- Quero-te. – Escreves.
(E eu fico mudo de memória-desejo-futuro.)

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