para nada...
Há momentos em que me apetece compor as palavras, ajeitá-las como quem ajeita um nó de gravata, mas eu nem uso gravata e talvez por isso não tenha o hábito de ajeitar. É engraçado como este verbo repetido três vezes logo se torna ridículo, mas adiante. Estava a falar das palavras, estas palavras aqui, não outras, evidentemente que há outras. Mas essas, as outras, insisto em pensar sobre elas, em as compor. Estas não, saem como os dias e é como reflexo do vazio que ficam para aqui plasmadas na memória de um servidor qualquer, numa qualquer parte do mundo. Que interessa, um dia apaga-se tudo, menos umas folhas de papel onde tudo isto existe repetido porque a mim me interessa guardar os fragmentos. Como se fossem partes de mim, penso. São tão pouco isso, apenas o silêncio, que por aqui também existe, é uma parte de mim. Estranho, imprimo estes textos e depois tenho que me procurar, como fui e não sou mais, nos espaços que a impressora deixou e branco na folha. Porque aí tudo existe e tudo é explicado. Talvez nem tudo, talvez eu nem saiba bem o que escrevi e porquê, e por isso também não sei o porquê daquelas formas especificas deixadas em branco na folha impressa. Escrevo depressa, nunca sei se isso se nota quando se lê. Eu não leio, quer dizer, por vezes leio e vou corrigindo os erros que deixei escapar por entre a pressa de dizer alguma coisa a alguém que não existe, ou que não compreenderá porque só eu tenho a chave para ler nos espaços em branco que estes textos deixam no monitor ou na folha de papel. Sabem, confesso que por vezes grito e não se ouve e por vezes sussurros segredados são de tal forma ampliados que nem eu mesmo entendo se sei realmente quem sou. Provavelmente não. Não interessa. A única coisa que eu quero já sei que é impossível, e sei que é o reflexo disso que irei ter se um dia me deixar sentir que isso é tudo que eu quero. Por enquanto deixo que as palavras reproduzam os gestos rápidos dos meus dedos e fico sem saber o que dizer quando descubro (e a cada dia descubro de novo, uma e outra vez) que alguém lê. Depois o que faz com o que lê, isso não sei. Eu próprio por vezes me ponho a pensar o que pensaria se fosse eu a ler e não a escrever isto que escrevo, mas é um exercício que não leva a nada porque em cada palavra eu conheço todas as cordas que moveram os dedos até estes sentidos, e por isso nunca posso ser o outro que não eu. Deixo-me estar neste momento em que talvez se justifique uma pausa das palavras, talvez se justifique um fim em si.
1 Comentários:
Curioso... Para além de bem escrito, o texto define exatamente o que penso ás vezes com os meus botões...
Por nobody, Às 6:39 da tarde
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial