sublinhar

terça-feira, janeiro 04, 2005

vês aquela árvore, ali / a caminho do mar? [1]

Prólogo

O quarto tem uma cama enorme que ocupa quase todo o espaço. a janela, de onde se vêem apenas os telhados de doutras casas, está fechada. julgo que nunca perdi mais de um minuto a espreitar por ela. aqui dentro está frio. deitamo-nos.

O que sabes acerca de mim?

Havemos de nos amar ainda muitas vezes sem que saiba responder a essa pergunta. por vezes perscruto a resposta no teu olhar mas, acredita, não sei. também não te pergunto. não o faço porque, no fundo, não interessa.

O silêncio nunca acontece

Estamos deitados na cama. falamos. sobre um facto vulgar na minha vizinhança. rimos. comemos uvas que trouxemos para o lado da cama, precisamente por isto. as palavras não acabam, nunca.

Acontece-me pensar que não te amo

Devia ter o pudor para dizer que não é o teu corpo, mas não tenho, tu sabes. há algo de falso nesta sinceridade absurda com que vivemos um do outro. acontece-me pensar que não te amo, mas isso seria ajustar os sentimentos à banalidade do acto formal.

Para que saibas, isto não é a felicidade....ainda

Haverá um dia em que, apaziguados, deixaremos de nos procurar. porque esse entendimento benevolente existe, os nossos dias fecham-se sobre si próprios. existem porque existimos, existem em si porque existimos, assim, náufragos, em nós.

Talvez estas palavras percorram outros caminhos

Acontecem na melancolia da tarde, estas palavras. interceptam o local do segredo. tudo que não pode ser transposto para palavras nunca aparecerá escrito. para que saibam: nada de concreto se alcança durante esta leitura.

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