sublinhar

segunda-feira, junho 13, 2005

nocturno

stalker3-2


Suponho que dormes. Porque não? Afinal é noite lá fora, e os espaços abrigados entre paredes brancas permitem essa cumplicidade com os nossos medos que nos permite dormir.

Suponho que dormes. Confirmo essa ideia pelo silêncio do aparelho electrónico que agora tenho em cima de mesa. Estranho que um telefone possa ser a tua voz.

Suponho que dormes. Que te deixaste cair algures entre a angústia de eu não existir de verdade. Por vezes penso que a finalidade de tudo é a metáfora. E que a minha própria vida é uma metáfora.

Eu não existo, dizem-te os teus braços deitados na cama agora, enquanto dormes eles dizem: ele não existe. E nos teus sonhos eu sou apenas uma árvore verde cujos ramos abanam brandamente à passagem de um vento de norte.

Acorda.

De dentro de nós, nestas horas, cresce o silêncio que ouvirás um dia numa avenida prenhe de trânsito na hora de ponta.

Acorda.

Quero surpreender a noite no preciso momento em que acordas para te dizer: Amo-te.

Acorda.

O silêncio… por vezes, as palavras revolteiam em nós, procurando uma saída para que o mundo se esqueça que existe. Ou ficamos assim, calados. A noite inspira esta desconfiança entre as palavras.

Adormeço.

Agora é noite e o som da relva impõe-se sobre a natureza rude das coisas.

Existem dois corpos e duas camas.

Um corpo e uma cama.

Acordas.

Ouço-te dizer: Amo-te.

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