sublinhar

domingo, junho 05, 2005

palavras e flores


Antes que te possa falar com as palavras de terra, as mesmas com que me dizes amo-te, talvez seja prudente aprender com as mãos os nomes das plantas que me chamam dos montes.

Por vezes penso que será demasiado tarde, ou que uma nuvem de insectos disfarçada de piano de cauda se abaterá sobre mim, num qualquer caminho do monte disfarçado de avenida movimentada por ondulantes seres metálicos de futuras degenerescências.

São esses medos que povoam os sonhos dos que não sonham. O tempo disfarçado de informação útil, a ser usada de acordo com as conveniências.

Se me fecho no meu quarto, dormente entre os head-phones com música alta, logo uma voz, ou uma luz, me fazem sentir a urgência de fazer alguma coisa, seja o que for.

Talvez, e em mim poucas são as certezas, seja esse fulgor dos horários dos outros que insistentemente cumpri, que fazem com que hoje, nos intervalos meus do mundo, me deixe enrolar por uma sonolência breve, por um estupor cheio de prazer recalcado.

Hoje, ao contrário, acordei com a vontade de te oferecer uma flor cujo o nome me esqueci de aprender. Esse gesto haveria de me levar um dia a uma terra cheia de mar e me fazer nadar entre as águas verdes como as árvores. Um reflexo de um mundo em outro mundo.

Esse seria o dia da revelação. Na água e no teu corpo.

Que esse dia aconteça apenas depende de um gesto: eu estender um braço e da minha mão desabrochar uma flor. Para ti.

É isso que faço agora, uma flor, a palavra: FLOR.

Foto de Silvio Tucci Júnior, Lílio

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