(post circular n.º 1)
Caetano – Verdade Tropical
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
João Cabral de Melo Neto – O Relógio
A monocórdica sapiência das flores
Antes, ou depois, ou em vez de,
um aglomerado metafísico de
vidrinhos improvisados de
uma janela partida, caída, havia horas, na rua.
A voz sonolenta do homem que
despertava àquela hora que
representava a aurora que
lhe era possível, naqueles dias terríveis.
Antes, ou depois, ou em vez de,
uma torrada queimada de
pão integral esquecido de
quentes dias anteriores a tudo.
O corpo sonolento do homem que
vagueava pela casa que
outrora se enchera de alegria que
nascia de um sorriso de mulher.
imagina o meu corpo deitado sobre a cama. podes tocar-me. toca-me.
antes que o tempo acabe ou a intimidade se intimide,
despe-te tu também,
e deixa-te cair sobre mim.
o mundo, lúcido e frio, desaparece sob a nossa leveza.
esquece-o.
Dalí – A Persistência da Memória; William Newenham Montague Orpen – Nude Study
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