sublinhar

sábado, março 20, 2004

Eram seis da tarde, algures em lado nenhum.

- Apetecia-me estar morto.
- E então porquê, meu amigo?
- Sei lá, palavras…palavras.
- Fala então por falar, é isso?
- Falo…sim, falo…e ouço.
- Olhe que isso não é razão para morrer.
- Não, não é. Talvez não seja. Talvez falar seja apenas falar e ouvir seja apenas ouvir.
Talvez tudo seja fingimento…talvez esqueça, talvez me lembre.
- Já a memória é conhecida por matar muita gente.
- Lembrar…gestos e palavras.
- Então esqueça, homem. Esqueça.
- Não posso. Morreria então, morreríamos todos.
- E que mais quer o senhor?
- Uma eternidade qualquer.
- Esqueça homem, faça o que lhe digo: esqueça. A eternidade é coisa que só interessa a quem caminha as áleas da morte. O presente é tudo o que temos.
- Nada, portanto?
- Sim, nada. Já é ter muito, então não acha?
- É capaz de ter razão.

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