sublinhar

quarta-feira, março 31, 2004

Pelos labirintos do sentimento

Um começo de tarde de chuva, esta tarde, um olhar que olha em volta procurando. E um sentimento de que tudo se desenrola com um vagar qualquer, uma lentidão inumana, uma dor inscrita no futuro.
Outro começo da tarde, de sol, lembro as palavras. São sempre as palavras. Tu, de pé, diante da porta da minha casa. Sorris. Que bonito sorriso. Lembro-te agora, porque te vi hoje e porque não tenho saudades tuas inscritas em chama no meu corpo. Porque agora és apenas memória querida para viver em momentos como este, em que um carro passa, a chuva cai, uma pessoa anda apressada com um guarda-chuva, e eu escrevo, sinto, tranquilo.
Outra tarde ainda, agora um fim de tarde, não anoitece porque é verão e foi decretada pelo governo a luz geral até às 10 da noite. Já se passaram alguns anos. Esta outra memória-sentimento que guardo. Uma face semi-escondida dos outros. Mais algumas palavras, sempre as palavras. Encaravas a possibilidade de matar. Nunca o fizeste. Que sofrimento isso te causou?
Estes sentimentos, do passado, no passado, aqui, agora, lembram-me que a razão está também destituída de razão. E que o sentimento é um triunfo-qualquer sobre coisa-nenhuma.

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