sublinhar

quarta-feira, abril 21, 2004

E.

São uma e vinte e quatro da manhã. Ainda escrevo para tentar expulsar o que sinto. Hoje vi um grande amigo que não via há muitos anos. Sabia que ele passou esses anos em permanentes tratamentos psiquiátricos que o levaram, aliás, a vários períodos de internamento. Hoje, vi-o na rua, chamei-o, falei com ele. Estive toda a noite a pensar nisso, parte da noite a escrever sobre isso. Mas não há pensamentos ou palavras. Não há justificações nem culpas. Um sorriso, um jovem cheio de esperança, transformou-se em dez anos num mundo aparte, rodeado do mais obscuro silêncio, totalmente impenetrável. Hoje fiz-lhe uma pergunta banal e respondeu-me com frases sem sentido, mas muitas frases, como se tacteasse à procura de uma correcta para aquela pergunta. Como se houvesse vontade de falar mas já não os meios para o fazer. Sei tudo o que desencadeou este processo, e nem por isso o compreendo melhor, nem por isso o consigo definir, nem por isso perco a raiva indefinida que sinto.

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