sublinhar

domingo, abril 04, 2004

Memória e desmemória

Relembro que a última vez que beijei os teus seios foi sem o conhecimento das despedidas futuras. A última vez que me afoguei nos teus olhos ignorava que me despedia desse tumultuoso mar. Na última vez que enlacei o teu corpo de encontro ao meu, soltei-te demasiado cedo porque imaginei um reencontro.
Talvez por isso vivam agarrados a mim: o teu cheiro; o teu sabor; a tua pele; Quero apagar-te desta memória imediata do ser, mas também te quero amar, agora. Quero-te e não te quero. Não suporto ter-te a mais de um centímetro da minha pele, mas também não suporto ter-te assim dentro de mim: cravada no meu respirar, permanência no meu sentir.
Como podes ter medo que te esqueça, se vives em mim para sempre. Mesmo que um dia estejas longe da memória imediata do que sou, permanecerás incrustada na minha pele, serás as cicatrizes das feridas felizes que causei em mim, ou tu causaste em mim. Importa que vivi (te vivi) isso faz-me feliz, quando não me agonia até ao ponto de me sentir sufocar.
Talvez não gostes de ouvir: que te amei para lá da loucura; que tudo isso me fez ter medo; que sim, te vi perfeita. Talvez não suportes ouvir: que eu ainda te amo; ainda te quero; ainda me quero afogar no teu corpo; viver para sempre dentro de ti.
Mas também quero lavar do meu corpo esse contacto, e esquecer por momentos que existes, para voltar a ser eu, sozinho, com sonhos onde a vida existe para além do teu corpo.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]



<< Página inicial