sublinhar

domingo, maio 23, 2004

Sob pressão

Acontece por vezes alguém me dizer: Escreve Luís. E acontece também essa pessoa apresentar razoáveis motivos ou, simplesmente, razoáveis motivações. Então eu escrevo. O que escrevo nesses momentos não é, aliás, diferente do que escrevo em outros momentos em que estou sozinho e eu próprio digo: Escreve Luís. Com tanta gente a repetir o verbo chega a ser difícil resistir ao desembrulhar das palavras. Escrevo. Esta é outra noite, e, apenas outra noite. Ou outra noite diferente de qualquer noite esta noite outra noite. Quer-me parecer que este ritual é, pode ser, obsessivo. Ou então sou eu que hoje, esta noite, quero infringir algumas regras apenas pelo prazer de as infringir. Lembro-me, agora que me lembro dessa noite de chuva, lembro-me também de quase-tudo. Essas noites eram diferentes: ouvíamos música como quem descobre o mundo, bebíamos apenas pelo prazer de ter intermináveis conversas sobre as estrelas e acreditávamos no futuro. Hoje, o futuro nem sei o que é. Nesses dias o futuro era tanta coisa, tudo. Lembro-me. Os nossos sonhos são agora isto. Nem todos sobrevivemos debaixo de tanta pressão.

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