sublinhar

terça-feira, junho 21, 2005

um post para entreter a insónia

Por vezes regresso ao tempo em que os textos são apenas uma forma de entreter o tempo, de o deixar passar entre os dedos para longe. É noite, é sempre assim: é noite, está calor e as palavras constituem o único porto de abrigo, ou antes, um farol que nos permite acreditar que o barco naufragado ruma a qualquer lado.

A imprescindível informação horária: são uma e oito a.m..

Se quiserem saber (é estranho imaginar alguém a querer saber) a noite enche-se de desenhos na pedra, lentos e antiquíssimos golpes de machado na pedra.


Se um dia fosse a caminhar pelo campo talvez chamasse alguém para comigo erguer um menir, ao lugar iria chamar: O Lugar.

Como justificação diria que nunca ouvi falar de Alfredo Bettencourt, nem de séculos, nem de anos. Apenas que a lua visita a terra à noite e, se o soubesse articular em palavras diria ainda: não precisam de inventar a inocência. Parem, olhem, divirtam-se. Considero injustificado que se mantenham conceitos inúteis apenas por superstição.

Deixem.

Alguém um dia, há sempre alguém um dia, por isso não temos o que recear. Alguém, um dia, virá… não me apetece contar a história, detesto catástrofes e paraísos.

Apetece-me um dia, um dia qualquer, tanto faz, vá lá, não sou exigente, sou existente, é só. Apetece-me um dia qualquer.

Leio acerca um romance sobre as banalidades de uma praça qualquer, não me lembro do autor, S. Suplice, a praça. Nem sei se acertei a ortografia. Que me importa a ortografia, são uma hora e dezanove minutos a eme. I’am, what I’am. The way I walk…

É triste quando ouvimos no metro um homem tocar My Way, é triste quando cantamos a letra e, sei lá, até temos medo de acertar.

Se houvesse um homem, de pé, no topo da maior montanha do mundo, ele estaria mais alto que todos os outros homens, isto se não houvessem astronautas deitados em estações espaciais.

É triste não poder mais caminhar até ao sítio mais alto.

Ainda há caminhos, até existem percursos cravados bem firmes no solo, assim podemos caminhar do ponto A ao ponto B pelo percurso mais curto: a desmemoria.

Se eu pudesse, sei lá, erguer um menir, e chamar ao lugar, precisamente: O Lugar.
Acreditem, seria feliz.

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