sublinhar

segunda-feira, dezembro 20, 2004

quero que me digas

"O que queres?"
Num ponto, antes de tudo, que as palavras correspondam milagrosamente à fórmula pensada com que o desejo se evapora do nosso corpo. Quero que me digas: todas as palavras que existem para me dizeres. Não lamentes o seu absurdo, se existe, ou a sua dor infligida, se há dor nelas para ser infligida. Não as lamentes. Quero, antes de tudo, que as digas. Uma a uma. É isso que espero de ti.
Talvez já não sejamos capazes de ser assim, mas só assim­ podemos remover os obstáculos que removem de cada frase a palavra bela, que retiram às conversas as perguntas necessárias, as curiosidades amáveis, amantes. Talvez o mundo e a sua linguagem não permitam que quebremos o silêncio com tanta força, que nos imiscuamos no centro do desejo, da fuga, da partida... ou então o mundo existe para ser vivido na ânsia de conhecer, de saber, sem que nunca nos seja dada a resposta, ou sem que nunca cheguemos a perguntar.
Vejo agora que te peço o absurdo. Peço-te que me fales como nunca ninguém se falou, peço-te que me dês muito mais do que alguma vez alguém deu. Mas, na verdade, é isso que te peço.

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