Monólogo de um homem incerto
Posso não conquistar nada. Sim, essa é uma possibilidade presente. Posso falhar. Há algo de abrupto na palavra falhar. Aliás, que eu saiba, em Portugal falhar não é um verbo muito utilizado. Bom, sempre se falham os quantos golos. Mas na vida, aí ninguém falha. Vamos indo. Para onde, ninguém diz. Porra, como me irrita que existam dez milhões de pessoas no mundo sempre em risco de quase existirem, sempre à porta de qualquer coisa grande, mas que não falham, nunca. O segredo é nunca tentar. Nunca ousar, nunca mandar tudo à merda e ir. Ir por a aí. Com fúria. Nós vamos indo, imóveis. E esta merda cola-se-nos ao corpo (esta frase se não é tua está lá perto). Este fim de semana li sobre a possibilidade de não termos encontrado ainda o vocabulário para o amor, para o sexo mesmo. Num texto de Inês Pedrosa, salvo o erro. Falava-se de Maria Teresa Horta, a obviamente excluída. Que isto das mulheres gostarem de sexo ainda faz confusão a muitos homens, e, extraordinariamente, a muitas mulheres também. Eu por mim, sinto-me tentado a deitar fora anos, séculos, inteiros de cultura. Que se foda a cultura. Vivam as árvores. De preferência quando imóveis, estendidas ao sol, num jardim de Maio, ramos erguidos para o céu e sobretudo...
...cá entre nós, sobretudo a terra, as mãos cheias de terra, os pés descalços numa poça de lama depois da rega.
Sou instintivamente a favor das vinhas e contra os campos de golfe. Isto da cultura sensitiva, do silêncio, do anti-stress, deixa-me nervoso. É que depois há tanta gente a olhar para o lado tentando descobrir o que os outros pensam deles que nunca chegamos a saber se eles vivem.
Que isto de viver, para que saibam, é uma coisa muito nossa.
Do que eu gosto é da terra (e a propósito, da palavra terra também gosto muito) e dos corpos. Como em: cravou as unhas nas costas dele. Parece literatura de cordel, para vender em bancas de jornais.
Isto de falhar provoca ansiedade. Porque, digo eu, não podemos tomar nada por garantido. Uma espécie de dúvida metódica. Eu existo? O que é existir? E por aí adiante...
Escrever é outra coisa. Diz-se que é fugir do entendimento possível. Adoro estas frases equívocas. Aliás tenho uma preferência por frases e mulheres equívocas. Para ser sincero, por tudo que é equívoco. Este texto, por exemplo.
Raramente pensamos que a liberdade é uma coisa assim: dá um trabalho do caraças não deixar que de todo o lado nos cortem os movimentos, ou, na realidade, as asas. Raramente pensamos que a liberdade é aquela coisa que transaccionamos no mercado das emoções. Lá está, equívoco outra vez.
De regresso. Tenho um medo do caraças de falhar, falhar completamente. Tipo: imaginem que são o Álvaro Cunhal, a vida toda naquela luta e depois, um dia, por muito que nunca o admitamos em público, descobrimos que nada fazia sentido. Lá temos que seguir em frente, mentindo a nós próprios. É fodido, digo-vos que deve ser tremendamente fodido. Imaginem que é tão mau que ainda aturam gajos como eu, que nunca fizeram nada da vida, que têm tudo tão dado, tão caído do céu, que qualquer dia são eleitores do BE só para fingir que protestam. Imaginem gajos desses a dar-vos lições de moral. Mural, no caso de preferirem o pctp-mrrp.
É fodido, digo-vos, isto de tentar é fodido. Podemos sempre falhar.
Eu por mim, tenho medo que o amor seja como preencher uma declaração de IRS. Assim mesmo, como ela disse, e acertou em cheio. Um medo enorme, um medo do caraças.
Por estas e por outras vamos tentando. Sob a frase de Bataille... para não esquecer.
...cá entre nós, sobretudo a terra, as mãos cheias de terra, os pés descalços numa poça de lama depois da rega.
Sou instintivamente a favor das vinhas e contra os campos de golfe. Isto da cultura sensitiva, do silêncio, do anti-stress, deixa-me nervoso. É que depois há tanta gente a olhar para o lado tentando descobrir o que os outros pensam deles que nunca chegamos a saber se eles vivem.
Que isto de viver, para que saibam, é uma coisa muito nossa.
Do que eu gosto é da terra (e a propósito, da palavra terra também gosto muito) e dos corpos. Como em: cravou as unhas nas costas dele. Parece literatura de cordel, para vender em bancas de jornais.
Isto de falhar provoca ansiedade. Porque, digo eu, não podemos tomar nada por garantido. Uma espécie de dúvida metódica. Eu existo? O que é existir? E por aí adiante...
Escrever é outra coisa. Diz-se que é fugir do entendimento possível. Adoro estas frases equívocas. Aliás tenho uma preferência por frases e mulheres equívocas. Para ser sincero, por tudo que é equívoco. Este texto, por exemplo.
Raramente pensamos que a liberdade é uma coisa assim: dá um trabalho do caraças não deixar que de todo o lado nos cortem os movimentos, ou, na realidade, as asas. Raramente pensamos que a liberdade é aquela coisa que transaccionamos no mercado das emoções. Lá está, equívoco outra vez.
De regresso. Tenho um medo do caraças de falhar, falhar completamente. Tipo: imaginem que são o Álvaro Cunhal, a vida toda naquela luta e depois, um dia, por muito que nunca o admitamos em público, descobrimos que nada fazia sentido. Lá temos que seguir em frente, mentindo a nós próprios. É fodido, digo-vos que deve ser tremendamente fodido. Imaginem que é tão mau que ainda aturam gajos como eu, que nunca fizeram nada da vida, que têm tudo tão dado, tão caído do céu, que qualquer dia são eleitores do BE só para fingir que protestam. Imaginem gajos desses a dar-vos lições de moral. Mural, no caso de preferirem o pctp-mrrp.
É fodido, digo-vos, isto de tentar é fodido. Podemos sempre falhar.
Eu por mim, tenho medo que o amor seja como preencher uma declaração de IRS. Assim mesmo, como ela disse, e acertou em cheio. Um medo enorme, um medo do caraças.
Por estas e por outras vamos tentando. Sob a frase de Bataille... para não esquecer.
2 Comentários:
ó lindinho, não faz mesmo nada mal falhar. e de preferência quando caíres vai bem *embriagado* porque ao menino e ao borracho põe deus a mão por baixo...
Por blimunda, Às 7:15 da tarde
quanto à declaração de IRS começa mas a preparar-te para cagar nisso e escrever fora das linhas. que é como quem diz não leias as instruções. ou dilui a papa na água que te apetecer. desde que fiques com o brinde o resto...
Por blimunda, Às 7:16 da tarde
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