sublinhar

terça-feira, março 22, 2005

Does America love success?

A resposta é: claro que sim, como todos as culturas. O sucesso é enaltecido em todo o mundo, mas o que difere, em muito, é a definição de sucesso de cada legado cultural. Isto, por estranho que pareça, surge a propósito de dois filmes: o primeiro, votado pela Academia como o Melhor Filme de 2004, Million Dollar Baby de Eastwood; o segundo, não por acaso, um filme de Sergio Leone: Once Upon a Time in America. A acrescentar aos filmes, uma frase lida (e citada de memória) no Jornal de Letras a propósito do primeiro: o cinema clássico americano gosta de falhados (losers) como personagens centrais.

Pensava nisto e perguntava-me: será do sucesso que a América gosta? ou mais, e de forma primordial, do arriscar (take a chance) em prol do sucesso?
Vejo, na corrente com que me assalta a memória, filme após filme, livro a pós livro, vida após vida, e sigo de fim trágico em fim trágico, de grande derrota em grande derrota e, por vezes, de êxitos absolutos. E penso: o segredo, diz-se: a vida, reside na aventura de tentar, em grande, contra tudo, para obter algo que se quer.

Porque tudo é economia, insiro aqui umas discussões com amigos: não há em Portugal, ou no sul da Europa em geral, uma permissividade especial para com o crime fiscal, não é aí que reside o problema da competitividade das empresas e da pobreza do Estado. Na verdade, o que existe é uma cultura de baixo risco, um desejo de triunfar do pequeno furto, do pequeno desfalque, um limiar do pequeno desejo: uma casa, um carro. Ninguém sonha alto, ninguém dispõe de tudo pelo sonho. A sociedade, como um todo, olha de lado os grandes falhados, e tem como heróis (a que se refere sempre com ironia fingida) um conjunto de personagens de pequena vida, de pequeno sucesso. Do outro lado do atlântico, no lugar de nascimento do sonho moderno, o imaginário da economia mais inovadora do mundo está repleto de heróis bandidos, de crimes graves, de fraudes monumentais, de despudor nas relações com o Estado. Tudo crimes, como aqui, mas excelsos, intempestivos, monumentais, como quem joga a sua vida no tapete verde da roleta, mas a vida toda, não míseros patacos.

1.

Talvez por isso, lá ao contrário de cá, a inovação não seja sufocada, as artes não navegam no pântano da conformidade, antes brotem selvagens, como uma visão sempre renovada do mundo. Porque enquanto uns arriscam tudo por muito, outros arriscam quase nada por muito pouco, enquanto uns são grandes heróis e grandes falhados (losers) outros são, que triste sina, pessoas banais. O falhado (loser) é, mais do que o homem de sucesso, a verdadeira imagem da América, do seu triunfo. E, ainda mais paradoxal, é essa a imagem que mais desafia o nosso intimo, que mais nos dá a perceber o “defeito” de não-arriscar como sendo a coisa mais triste que temos.

2.

[escrito a correr. na senda de uma imagem qualquer, de como a realidade nem sempre é o que parece, e dos medos profundos, meus e de toda a gente. antes de mais, uma crítica severa a mim próprio, em virtude de já não o ser, e um elogio ao novo mundo novo, onde quer que ele exista]



1. Picture Collection, The Branch Libraries, The New York Public Library
2. Jasper Johns, Flags 1, 1973

3 Comentários:

  • ai ai ai, então america? então sucesso? isso deve ser porque o paul auster está para chegar, não? não??? well... feeling free to fail...

    Por Blogger blimunda, Às 9:37 da tarde  

  • era, precisamente, o fracasso...ou antes, o arriscar :)

    Por Blogger Luís, Às 11:06 da tarde  

  • ah, se assim é, é melhor: o crime de arriscar tudo num tapete verde de roleta. tudo. não uns míseros patacos. pode até perder-se não é? mas nunca o saberemos se não arriscarmos... e depois o fracasso saberá sempre melhor... e o sucesso será feito também desse momento de incerteza que se viveu antes. uma pedra, é o que é... não?
    (isto por aqui está muito sossegadinho...) (olha o que essas b..z.nas aondam a perder!!! eheheheh)

    Por Blogger blimunda, Às 4:37 da tarde  

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