sublinhar

terça-feira, março 15, 2005

Liturgia

Poderei insistir na palavra, agora que o Inverno finda nas vertentes verdes, vivas, dos montes?

Como dizer, como dizer-te, que o gesto lento sem significado, que no inicio da tarde, desponta da curva do meu ombro envolvendo-te, possui o encantamento oculto do chamamento dos anjos, das estelares primaveras, da terra, da semente, da fecundidade. Como? Se hoje o meu braço divaga, absurdo, no silêncio sem terra.

Julgo-me planta viva num lugar onde sombras de seculares bravuras guardam dos outros a tua voz.

Deixo para trás a brandura dos dias, aquecido pelo sol, regado pela tua seiva.

Fecundando a terra. Invadindo a cidade.

Qual de nós dois pode, ou quer,
medir o caminho que nos separa do sempre?

5 Comentários:

  • plantar uma cerejeira. agora que da janela observo a primavera precoce nos ramos das árvores, vem-me o desejo de plantar uma nova cerejeira. e debicar os frutos serenamente... liturgia... horas... horas...

    Por Blogger blimunda, Às 1:44 da manhã  

  • O sempre...O tal que não existe...

    Por Blogger Lyra, Às 2:32 da manhã  

  • não há caminho a separar-nos do sempre. como não há caminho a separar-nos da nossa vontade. o que queres que permaneça, mantém-se. a memória acaba por te trair.

    Por Blogger eternal sunshine, Às 12:44 da tarde  

  • O sempre só vive dentro de nós.

    Por Anonymous Anónimo, Às 2:04 da tarde  

  • Como o "sempre" o "agora" parece que não podemos viver os dois.Um aqui , o outro além...o além é todavia só uma sucessão indecifrável de "aquis"? Gosto do texto.

    Por Blogger manhã, Às 5:01 da tarde  

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