música simples
Como se as palavras juntas pudessem mais que frases, ou os sentimentos coubessem entre as regras gramaticais. Por vezes penso que falar assim, como quem respira com a dificuldade dos sonhadores, não faz sentido.
Imagino um campo de trigo acabado de ceifar e o deleite de estar ali deitado olhando o céu, ao mesmo tempo que reflicto sobre a impossibilidade de isso. Porque o campo de trigo é uma realidade de que eu estou ausente, digamos, que para sempre. Prefiro as ruas escuras da cidade, as pensões com nomes imperiais, onde as putas e emigrantes ilegais aguardam numa espécie de limbo, e onde existo com uma força que eu próprio não percebo, nem sequer concebo. Intriga-me que falem do labirinto florido de Creta, a mim, que conheço apenas o cheiro sujo das ruas desertas, madrugada alta, e o som da música perdida de um rádio qualquer. Eu sou da cidade, como quem bebe demais e caí de borco no passeio de pedra, como quem se assusta com esses animais absurdos que encantam os que cantam os montes e vales e outras perdidas noções. Eu, a cantar, se sei cantar, prefiro o olhar provocante de uma mulher que passa na rua sob a luz de néon de um aberto-vinte-e-quatro-horas-dinner. Dói-me um sitio onde não vivem, apinhados, numa intimidade forçada, milhares de indivíduos ávidos…ávidos de avidez, porque de outra coisa se pode estar ávido, num lugar onde o significado se perdeu? Gosto do acaso, e das possibilidades multiplicadas por milhões, e de pensar: será agora que vou morrer? Um tiro, numa rua escura e o disparar do alarme de uma loja de telemóveis. Depois, dias mais tarde, junto das armas a policia colocará os telemóveis, sobre uma mesa coberta pela bandeira, Policia Judiciária, como se fossem armas de tecnologia desconhecida. Ou, e que ideia audaz, como se as palavras fossem, mais que os disparos, o antes, o como e o porquê do crime.
o elogio da urbe. como quem ouve Lou Reed e se deixa ir.
Imagino um campo de trigo acabado de ceifar e o deleite de estar ali deitado olhando o céu, ao mesmo tempo que reflicto sobre a impossibilidade de isso. Porque o campo de trigo é uma realidade de que eu estou ausente, digamos, que para sempre. Prefiro as ruas escuras da cidade, as pensões com nomes imperiais, onde as putas e emigrantes ilegais aguardam numa espécie de limbo, e onde existo com uma força que eu próprio não percebo, nem sequer concebo. Intriga-me que falem do labirinto florido de Creta, a mim, que conheço apenas o cheiro sujo das ruas desertas, madrugada alta, e o som da música perdida de um rádio qualquer. Eu sou da cidade, como quem bebe demais e caí de borco no passeio de pedra, como quem se assusta com esses animais absurdos que encantam os que cantam os montes e vales e outras perdidas noções. Eu, a cantar, se sei cantar, prefiro o olhar provocante de uma mulher que passa na rua sob a luz de néon de um aberto-vinte-e-quatro-horas-dinner. Dói-me um sitio onde não vivem, apinhados, numa intimidade forçada, milhares de indivíduos ávidos…ávidos de avidez, porque de outra coisa se pode estar ávido, num lugar onde o significado se perdeu? Gosto do acaso, e das possibilidades multiplicadas por milhões, e de pensar: será agora que vou morrer? Um tiro, numa rua escura e o disparar do alarme de uma loja de telemóveis. Depois, dias mais tarde, junto das armas a policia colocará os telemóveis, sobre uma mesa coberta pela bandeira, Policia Judiciária, como se fossem armas de tecnologia desconhecida. Ou, e que ideia audaz, como se as palavras fossem, mais que os disparos, o antes, o como e o porquê do crime.
o elogio da urbe. como quem ouve Lou Reed e se deixa ir.
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