ao ocaso
*Há um grande cansaço da alma do meu coração.* As tardes são paradas e genuínas. Descendentes das tardes douradas em que a juventude se abriga dos artifícios da vida. Agora, *há um sono da atenção voluntária*, nãos são os mesmo orgasmos colhidos no acaso dos corpos que se encontram. Depois daquelas breves palavras e dos nítidos sons de música invadindo os dois pisos da casa, acorrendo ao jardim onde corpos se espraiam sugando do sol a sua vida. Não há mais rock’n’roll com decadência, nem passos indefinidos de poetas malditos. Um deles recita para o vazio, os corpos estendidos possuem a música, vibram, enroscam-se em formas diáfanas, e o poeta fala sozinho. No fim, alguém, ao longe, sob o guarda-sol colocado perto da mesa onde as bebidas aguardam, bate palmas à recitação que não ouviu. Outro alguém entra gritando que o mundo não nos merece. Ouçamos com atenção essa voz: “O peso de sentir! O peso de ter que sentir!” – fim de citação. A tarde declina, um ou outro corpo arrasta-se até ao chuveiro, fim de festa, fim de vida. *Não são por mim as estações, nem o curso dos meses, nem a passagem das horas.* Não são por mim estas palavras, este sangue, esta insensatez. Eu não existo.
* Bernardo Soares
* Bernardo Soares
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