Precipício: NÃO SE APROXIME
Podia escrever so bre a luz suave que se derrama sobre o chão do escritório, ou, até, sobre o próprio chão de madeira onde, dia após dia, me movo à procura de algo. Podia escrever so bre o sorriso de uma mulher, ou, até, sobre a curva dos seus seios. Podia, embora naufragasse, não escrever de todo e deixar que o mundo se movesse num espaço algures em meu redor. Podia dormir, deixar que os olhos se fechassem, deixar que os sons se confundissem na minha cabeça, e, até, chorar um bocadinho antes de adormecer. Podia, embora isso fosse julgado por todos, dizer que me apetece matar o tempo vendo desenhos animados na tv, e deixar de pensar, deixar de repetir as mesmas palavras que outrora alguém disse. De único tenho o desejo pessoal de morrer, ou talvez o desenho circunstancial numa tarde de verão numa esplanada qualquer. Podia, mas não o faço ainda, parar de contemplar a rua ali fora e ir para casa, subir as escadas, fechar a porta do quarto, inserir no leitor de cd’s um cd dos Marilyn Manson (podia até escrever estas coisas para ofender, mas nem por isso o faço assim) e deitar-me. Podia, talvez, ir lanchar, apenas porque não me apetece trabalhar ou fingir. Podia insultar as pessoas que se cruzam comigo na rua, não por não gostar delas, mas, essencialmente porque hoje não gosto de mim. Podia escrever: não me suporto, mas seria apenas uma frase de mentira, albergando uma boa dose de vontade de sorrir. Podia, eis uma extraordinária ideia, morrer. Podia acreditar que o mundo está cheio de possibilidades mas não sou assim.
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