paraíso perdido 3.2
Uma criança cresce no subúrbio e a agarra a bola enquanto a mãe o transporta de metro entre o bairro e a praia. O menino negro agarra com a toda a força a sua bola cor-de-laranja e já nem sorri. O que sabe o miúdo que agarra a bola, surdo ao mundo, com medo, enquanto me olha no comboio? Quantas vezes a bola que agarra lhe foi roubada em sonhos? Olha-me como se me sonhasse, ou como eu o olho, sem esperança, os dois. Quantas vezes fui o miúdo que, sem motivos, perdeu a bola que nem sequer agarrei com a mesma força com que o puto agarra a bola entre a confusão de corpos suados que ocupam a carruagem. Não sei as linhas com que se cose aquele olhar, para mim, agora, como se eu fosse um pedaço de liberdade a alcançar. Quando um miúdo perdido, agarrado a uma bola, me olha assim esqueço-me de dizer baixinho: desisto.
Massenzi, Life in the slum, 1996
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