sublinhar

terça-feira, abril 19, 2005

Doze subterfúgios a uma mesa de café

Chega ofegante, senta-se, quase grita ao empregado para que lhe traga um café, depressa. Depois de sentado, ainda agitado, abre o jornal do dia. uma centena de mortos algures em áfrica, um crime qualquer algures em lisboa, uma nova política qualquer...pára de ler o jornal e levanta a cabeça. Umas quantas pessoas estão sentadas ou deambulam pelo café. Não repara em nada de especial, apenas deixa os olhos fluir por essa vaga sensação de realidade. O telemóvel toca.
- Sim?
- Sou eu.
- Sim, eu sei que és tu.
- E isso é tudo que tens para me dizer?
- Agora não posso. Estou entre duas reuniões, o dia está a correr mal....
- Sim?
- Se eu te dissesse que me apetece ir para umas termas com um comprimido azul no bolso, tu ias perceber?
- Ah?
- Pois. É como se houvesse uma distância incorruptível entre o que nós somos e os outros.
- O que te está a acontecer?
- É apenas um dia como qualquer outro, não sabias? O meu sorriso é feito de inúmeros... esquece.
- Mas conta-me, por favor.
- Não há nada para contar sobre coisa nenhuma. Tudo reside no abismo entre a ambição e a realidade, entre o sonho e a destreza. Coisas. como um abismo atrás de uma porta. Tudo são sinais, nada são sinais.
- O que tens? não te percebo.
- Deixa. Assim que me levantar deste lugar que me asfixia sem que saiba porquê, assim que a luz do sol aquecer o meu corpo, assim que as páginas que agora escrevo como quem finge que fala estiverem concluídas...suponho que então irei sorrir de novo, como quem se desconhece.

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