sublinhar

quarta-feira, dezembro 31, 2003

Sou Eu
Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio! ..

Álvaro de Campos

Receita de ano novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

May be (?)
She
May be the face I can't forget
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day.

She
May be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a heaven or a hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell

She who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past
That I'll remember till the day I die

She
May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is

She, she, she

“She” – Elvis Costello

terça-feira, dezembro 30, 2003

Acordar, viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.

Carlos Drummond de Andrade

Este que sou
Eu sou este. Sou completamente este. Não sou outro. Gostava de ser outro que não este, mas sou eu, este, que sou. E isto tudo, para que não penses que sou outro, diferente deste, o outro. Eu não sou outro, nem posso ser. Sou, completamente, quem sou.
Acontece, por vezes, parecer-me que não sou. Ainda que seja realmente. Nesses momentos, ser eu é não-ser nada. Vazio, portanto.
Conclusão: Eu sou este, não sou outro. Quem quer que seja, o outro que não sou. Isso, aliás, nem me importa. Sou este, sou.

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade



É preciso não esquecer nada
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles

sábado, dezembro 27, 2003

Fim-de-semana

Band of Brothers

terça-feira, dezembro 23, 2003

Uma boa notícia

Linha de Guimarães reabre a 11 de Janeiro de 2004
Público

segunda-feira, dezembro 22, 2003

...


Claude Monet, La Gare Saint-Lazare, 1877

sábado, dezembro 20, 2003

Um post demasiado longo, talvez.

Por vezes a única coisa que nos resta fazer é escrevermos assim, sem reler nada do que ficou para trás, sem medo das palavras que podemos revelar ou ocultar. Por vezes o mais importante é não perder a oportunidade de usar as palavras grandes: AMO-TE; ou AMO-TE QUASE (o que é a mesma coisa, quase). Ou então, por vezes, só nos resta pedir, não ter medo de parecer ridículo por estar a pedir, a pedir assim pedindo: FALA COMIGO, NÃO TE CALES NUNCA.
Por vezes só nos resta nos entregarmos assim por inteiro, sem procurar encontrar subterfúgios para escapar ao que nos atrai. Por vezes só nos resta sermos nós. Assim, nus.
Resta a quem lê compreender o que está escrito, ou então não.
Por vezes só nos resta sermos assim, completamente nós, sermos ridículos por vontade absurda, imperiosa, de sermos. E, por vezes, só nos resta escrever assim sem olhar para trás, sem corrigir nada.
Por vezes, confesso, não é escrever que nos apetece, mas sim viver. Viver, viver, não escrever.
Por vezes, mas nem sempre, agora. Apetece-me segurar-te entre os meus braços, apetece-me beijar-te.
Por vezes, quase sempre, mas nem sempre. És só tu que me resta.

O náufrago na sua ilha (deserta?)

Ainda agora estiquei o braço na direcção da prateleira alta da estante, para tirar o livro que é meu (que sou eu?). Ainda agora abri o livro e comecei a ler. Mas já encontrei isto, sublinhado:

“Dois, três dias de semelhança de principio de amor…

Tudo isto vale para o esteta pelas sensações que lhe causa. Avançar seria entrar no domínio onde começa o ciúme, o sofrimento, a excitação. Nessa antecâmara da emoção há toda a suavidade do amor sem a sua profundeza – um gozo leve, portanto, aroma vago de desejos; se com isso se perde a grandeza que há na tragédia do amor, repare-se que, para o esteta, as tragédias são coisas interessantes de observar, mas incómodas de sofrer. O próprio cultivo da imaginação é prejudicado pela vida. Reina quem não está entre os vulgares.

Afinal, isto bem me contentaria se eu conseguisse persuadir-me que esta teoria não é o que é, um complexo barulho que faço aos ouvidos da minha inteligência, quase para ela não perceber que, no fundo, não há senão a minha timidez, a minha incompetência para a vida”

in “Livro do Desassossego” de Bernardo Soares

Murmúrio

"Se alguém perguntar por mim
Diz que eu fui por aí
Levando o violão debaixo do braço

Em qualquer esquina, eu paro
Em qualquer botequim, eu entro
E se houver motivo
É mais um samba que eu faço

Se quiserem saber de mim
Se volto, diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim

Mas só depois que a saudade se afastar de mim"

in "Diz que fui por aí"- música de Zé Ketti e H. Rocha.

quinta-feira, dezembro 18, 2003

Vôo

Alheias e nossas as palavras voam.

Bando de borboletas multicolores, as palavras voam.
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.

Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos, como negros abutres, as palavras voam.

Oh! alto e baixo, em círculos e retas em cima de nós, em redor de nós as
palavras voam.
E às vezes pousam.

Cecília Meireles

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Reticências

Às vezes eu imagino
que tenho alguém
perto de mim...
Alguém que eu amo
e que me quer também;
que olha nos meus olhos,
que pega no meu rosto,
alguém que sabe o gosto
que o meu coração tem...
Sabe, de vez em quando
a minha imaginação
trabalha tanto,
que chego a ver você!
Chego a sentir sua mão!
Vê?
Parece que você está aqui agora,
no entanto...

Mariza Fontes de Almeida

terça-feira, dezembro 16, 2003

Absurdo?

Não existe nenhuma palavra, ou conjunto de palavras, capaz de invocar o nosso silêncio juntos, ou a nossa intimidade quase, ou a nossa felicidade futura. Não existem palavras assim, para dizer isto. Isto são todas as palavras e não é nenhuma também. Isto não se diz, mesmo que se diga. Isto é uma palavra junta, uma palavra quase, uma palavra futura. Não é uma palavra, ainda. Será uma palavra ou não será uma palavra. Quase junta no futuro ou junta no futuro quase.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

O lado de fora

Eu não procuro nada em ti,
nem em mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
e a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.


Poesia Reunida – Manuel António Pina

Poesia Reunida – Manuel António Pina

Peguei no livro enquanto passeava o olhar pelas estantes da livraria durante a hora de almoço. Peguei nele, por acaso, como peguei em muitos outros livros. Confesso que recordei a voz do autor, mais do que isso: as palavras do autor, ouvidas no sábado (e ainda há quem diga mal da televisão quando ela é capaz destes milagres). Abri-o… e li a minha voz escrita - a minha voz mais bela que a minha voz, as minhas palavras mais belas do que as minhas palavras. Abri-o...e encontrei-me mais belo do que me conheço.

PS: O livro é da Assírio&Alvim

domingo, dezembro 14, 2003

Resumo

O presente continua, futuro.
O presente que se apaga, passado.
O presente que sente, vida.
O presente diáfano, amor.

Memória

Ontem vi pela primeira vez a fotografia de dois dos meus bisavôs paternos…Aconteceu-me pensar que negligencio essa memória porque a presença constante daqueles que os conheceram me permite esse esquecimento. Mas sinto que me fogem agora todos eles e que só essa memória será capaz de me ajudar a reconstruir-me, um dia, quando já não souber quem sou.

Memórias de papel (4)

Luzes multicolores e o lamento que ecoa ao longe ferindo o silêncio da noite. Ele está parado, sozinho, sentado num banco de jardim. Observa. Ela está de pé no passeio, junto à rua, e finge que não o vê. Ele continua parado, aparece um sorriso frágil nos seus lábios mas logo se parte. Nada consegue dizer. Ela aproxima-se lentamente, como que a disfarçar, inutilmente. Sorri para ele quando está mais perto, mas também ela nada diz. Senta-se. Ela sente curiosidade, ele senta-se ali todas as noites. Ela não diz nada, timidamente. Talvez um ligeiro medo se interponha entre os dois. Talvez não haja nada para dizer. Ela é prostituta. Ele, funcionário público, finanças. Ama-a. Um barulho forte faz com que ela se levante. Pensa em fugir mas sente-se segura ali. Ele continua imóvel, veste um fato de uma marca conhecida, sente-se seguro de si como quase nunca acontece. Tira do bolso um maço de cigarros e oferece-lhe um. Ela aceita com um sorriso e senta-se de novo. Olham-se por um breve instante, com carinho. Nem uma palavra sai dos sues lábios. Ela treme, talvez de frio. Veste o seu uniforme curto e de cores berrantes. Aproxima-se timidamente dele. Tem medo de todas as palavras que possa dizer. Há algum tempo considerava-o um tarado mas aprendeu a confiar. Gosta do seu estilo seguro e meticuloso. Lembra durante o sono os seus gestos pausados e levemente femininos. Ele gosta assim. Aprendeu a usar o corpo como um felino. Fuma de vagar e treme um pouco, pela primeira vez. Mil vezes a imaginou assim tão perto. Imagens mil vezes repetidas nas vigílias em gabinetes escuros. Agora, tem que fazer um leve esforço para se abstrair do forte perfume que ela usa. Sente repulsa por esse cheiro que lhe recorda as vezes que a viu partir com clientes. Mas voltou sempre. Volta sempre. Um carro aproxima-se devagar e para diante deles quebrando o encanto. A janela abre-se. Quando ela se prepara para partir uma lágrima escorrega pela sua face. Quando dá o primeiro passo, ele diz: - Espera. Foi apenas um murmúrio mas foi suficiente.

Memórias de papel (3)

A primeira memória é morta,
Enterrada a lágrimas sozinhas,
Flutua num mar azul intermédio
Fingindo viver felicidades minhas.

sábado, dezembro 13, 2003

.....

Longe. lá de longe
De onde toda a beleza do mundo se esconde
Mande para ontem
Uma voz que se expanda e suspenda esse instante

Lá de longe
De onde toda a beleza do mundo se esconde
Mande para ontem
Uma voz que se expanda e suspenda esse instante

Lá de longe
De onde toda a beleza do mundo se esconde
Cante para hoje

Lá de longe, Tribalistas

O sol incide sobre uma folha de Outono, na paz etérea de um sábado.

Hoje está um dia lindo. Fui agora lá fora comprar o jornal. Fui a pé, vou sempre a pé. Adoro o sábado nestas ruas perto de minha casa. Durante a semana tenho que suportar a agitação de uma escola do 2º e 3º ciclos que fica ali na rua ao lado. Só ao fim-de-semana posso usufruir desta paz, deste silêncio que enche tudo. Até na porta do hospital, por onde passo já sabem, se sente essa paz, que é uma mistura de sol, frio e silêncio, tão contrastante com os rumores de todas as outras horas. Mesmo que a vida fosse apenas isto: comprar o jornal na paz de um sábado, valeria a pena estar vivo.

Memórias de papel (2)

Tenho a cidade dentro de mim. Percorro-me pelas ruas estreitas e vielas, e não encontro senão dor e sofrimento. Todo o meu corpo se insinua num movimento único, mas difuso. Como a cidade, eu sou tanto um corpo que se move em uníssono como um milhão de seres que divergem nas suas arrelias. Possuo dentro de mim o pulsar constante da alucinação, apetece-me dizer como Herberto Hélder: “Se eu quisesse, enlouquecia.”
Ainda assim, disponho dos movimentos que me são permitidos pela demência em que existo, e tento fugir escrevendo, ou escrever a fugir.
Sinto, de forma desconexa dentro de mim, que a morte é chegada e que nada há de mim para contar. Tenho pena, mas nada faço para além de nada fazer. Sou assim. Um lento suicídio sem fim. Uma imagem e algumas palavras que me envolvem numa doçura que julgara já perdida. É só isto. Parto sem nada ter sido.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Memórias de papel (1)

(A propósito da leitura do livro "A Terceira Rosa")

Há mais de um ano que acordo
Banhado no suor do meu corpo,
Respirando depressa e gritando
Vendo o teu rosto e o teu corpo morto

Lembro o teu sorriso mal acordo.
Não acredito, grito e choro.
Telefone-te em seguida, outra vez,
Tu dizes amo-te. Eu acredito e coro.

Todo o dia lembro a tua morte no sono
E vivo agitado, e depois telefono
E tu acalmas a minha paranóia
Com um sereno beijo electrónico

À noite, na cama, lembro-te de novo
E rezo para não mais ver o teu corpo
Inerte, gelado e sorridente
Durante o meu sono absurdo de vidente.

Quando escrevi isto ainda não tinha lido o livro de M. Alegre. O sentimento era então mais forte mas a escrita mais frágil. Mas ainda assim, penso que vale como uma bonita imagem do fim da minha inocência e da descoberta da morte*.

* Morte figurativa, mas nem por isso menos dramática.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

55 Anos....

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM
DE 10 DE DEZEMBRO DE 1948

Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade, e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta aspiração do Homem;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamaram, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembleia Geral
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.
Artigo 1º
(Liberdade, igualdade e fraternidade entre os seres humanos)
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade .
Artigo 2º
(Universalidade dos direitos do homem)
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social , de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Artigo 3º
(Direito à vida, à liberdade e à segurança)
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal .
Artigo 4º
(Proibição da escravatura e da servidão)
Ninguém será mantido em escravatura ou sem servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5º
(Proibição da tortura e de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes)
Ninguém será submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Artigo 6º
(Personalidade jurídica)
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica.
Artigo 7º
(Igualdade perante a lei)
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei.
Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8º
(Defesa jurisdicional dos direitos)
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei .
Artigo 9º
(Proibição de prisão, detenção ou exílio arbitrários)
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10º
(Garantias da função jurisdicional)
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razoes de qualquer acusação em matéria penal que contra ele seja deduzida.
+++++


... e ainda um longo caminho por percorrer.

TU

(Que nome te dar? Tu és única. tu és todas. Ou talvez nenhuma. Eu sou tu. Tu és eu. A outra metade de mim. A parte de ti que em mim ficou. A parte de mim que foi contigo. Ninguém me foi tão próximo. Ninguém me escapou tanto.
Como foi que constantemente nos encontrámos e nos perdemos?
Esta é a história. Uma história sem história. Uma história só isto.)

in A Terceira Rosa
Manuel Alegre

terça-feira, dezembro 09, 2003

Dia


Summertime, 1943
Edward Hopper

Noite


Nighthawks, 1942
Edward Hopper

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Olho pela janela e não há lá nada

Hoje queria que me saísse da tabacaria impossível, um Esteves também impossível. Talvez então, a visão do fracasso total me abandonasse.

Próximos capítulos

Ainda vou voltar ao livro “Leviathan” de Paul Auster, mais precisamente à cena da queda da personagem Sachs. Um momento em que Auster se transcende na descrição dos conflitos interiores de uma personagem, algo que faz tão bem, criando uma cena notável em que o potencial de ridículo é suplantado pelo lado de tragédia individual. Simplesmente memorável.

A culpa

"Uma consciência demasiado aguda, uma predesposição para a culpa quando confrontado com os seus próprios desejos, levavam um homem bom a agir de uma forma estranhamente desleal, de uma forma que punha em causa a sua própria bondade."

in Leviathan
Paul Auster

domingo, dezembro 07, 2003

Eu

"Entre mim e os meus pensamentos ergue-se uma barreira, e eu fico preso numa armadilha algures numa terra de ninguém entre sentimento e articulação, e, por muito que me esforce, por muito que lute pela minha voz, raramente consigo melhor que um gaguejar confuso."

in Leviathan
Paul Auster

Livros

"Ninguém pode dizer de onde vem um livro - e muito menos a pessoa que o escreve. Os livros nascem da ignorância e, se continuam a viver depois de terem sido escritos, é só na medida em que não podem ser compreendidos"

in Leviathan
Paul Auster

Natalie Portaman (2)

Natalie Portman (1)

Beautiful girls

Eu adoro este filme e embora não encontre razões objectivas para isso nunca perco uma oportunidade de o rever. Talvez sejam os diálogos entre Willie e Marty: que são simplesmente perfeitos; talvez seja a simplicidade da história e dos personagens; talvez seja qualquer outra coisa. A verdade é que adoro este filme.


Beautiful Girls de Ted Demme, com Timothy Hutton, Natalie Portman e Uma Thurman.

Memória


The helping hand, Emile Renouf

Havia uma reprodução deste quadro na casa da minha infância.

sábado, dezembro 06, 2003

Desculpar o terrorismo

A propósito da desculpabilização do terrorismo por parte de parte das elites ocidentais o Professor Diogo Pires Aurélio escreve hoje no DN:
“O que mais me surpreende no terrorismo contemporâneo nem é tanto esta recorrência dos atentados em várias partes do mundo: é, sobretudo, a atitude conformada, senão compreensiva, que as elites manifestam em relação ao fenómeno.”

Sobre o caso particular da ETA:
“Perante esta situação, que se arrasta aqui tão perto de nós e em plena União Europeia a opinião pública – tirando em Espanha, onde o caso é sério – tende a interpretar as acções violentas da ETA à luz de alegações ideológicas que deixaram há muito de fazer sentido.”

E depois de descrever o clima de terror em que vivem, no Pais Basco, os opositores da ETA, conclui:
“Acreditar-se, ainda hoje, que uma tal situação é compreensível, seja sob que ponto de vista for, constitui, antes de mais, um erro, mas constitui, sobretudo, um injúria às vítimas.”

Uma coisa simples que muitos se recusam a entender.

Aparecido

O programa desaparecido apareceu finalmente. Por pouco perdi a exibição, hoje, da entrevista de Ana Sousa Dias ao Mário Vargas Llosa, isto de darem os programas com uma semana de atraso causa alguma dificuldade aos espectadores, mas eles lá sabem.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Apontamento breve e sem muito interesse

O meu Word diz que as palavras interlúdio e desídia são erros. Quanto a desídia eu compreendo, é uma palavra feia capaz de induzir em erro os poetas. Mas interlúdio eu não perdoo; é uma das palavras mais bonitas da nossa língua não pode ser assim desvalorizada.

Para quem me perguntou porque escrevo:

“Ficções de interlúdio, cobrindo coloridamente o marasmo e a desídia da nossa íntima descrença.”

Estás a falar comigo?


ou

O meu retrato (Pouco lisonjeiro e escrito por um poeta que morreu 42 anos antes de eu nascer)


“Era um homem que aparentava trinta anos, magro, mais alto que baixo, curvado exageradamente quando sentado, mas menos quando de pé, vestido com um certo desleixo mas não inteiramente desleixado. Na face pálida e sem interesse de feições um ar de sofrimento que não acrescentava interesse…”(...)

Confissão ridícula

Às vezes imagino-me (sinto-me) um frequentador assíduo daquela sobreloja onde Fernando Pessoa conheceu o seu semi-heterónimo Bernardo Soares.
Não sei o que isto quer dizer, mas lá que o sinto, sinto.

terça-feira, dezembro 02, 2003

Informações Inúteis

Fernando Pessoa morreu no dia 30 de Novembro de 1935.
Woody Allen nasceu no dia 1 de Dezembro de 1935.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Vincent (2)


Cafe Terrace at Night, 1888
Vincent Van Gogh

Vincent (1)


Still Life with Open Bible, 1885
Vincent Van Gogh

Importante

Embora o meu blog também não tenho grande audiência não posso deixar de fazer eco desta mensagem.