vai no seu corpo
e subitamente
cai
casimiro de brito, livro das quedas, e ilustração de carlos marreiros para peregrinação de fernão mendes pinto, ed. expresso
mónica gostava que ele lhe metesse as mãos entre as pernas enquanto ainda estava vestida: os dedos a afastarem a seda das meias, a tentarem alargar o cinto de ligas, a deslizarem na pele macia das coxas, a insinuarem-se já pelo caminho dos pêlos até à humidade quente dos lábios grossos, salientes e largos da vagina, onde sentia pulsar um perturbante coração afastado.
Ou uma boca cheia de sede.
deixava que as pernas subissem, os pés roçando os ombros, mas primeiro como se hesitassem, numa espécie de abraço em torno do pescoço; depois, desciam de novo até aos ombros, abertas. Oferecendo-se, enquanto Pedro começava a lamber-lhe, ao de leve, as virilhas com o seu cheiro a fruto; um pequeno suor salgado a insinuar-se por dentro da saliva, dissolvendo-se na língua. E o sussuro, o gemido, eram tão baixos que ninguém saberia determinar de qual dos dois partiam.
Assim, vestidos.
dizes-me não esperarei um só segundo para me deitar no teu corpo. tenho a urgência em forma de pele e quero colher de ti esse fruto de silêncio. dizes-me não esperarei despir o teu corpo para me deitar nele. entrarei pelos teus olhos pela tua boca e descerei aos abismos mais quentes do teu ventre. dissolvendo-me no pequeno lago salgado entre os teus lábios. e se um gemido se colar à nossa pele é porque é de sussurros que os nossos corpos se fazem
e desfazem
entre as nossas mãos. um só pedaço de ti e saberia refazer-te
toda.
desde o princípio, como gostava, logo depois de chegarem ao quarto da pensão pobre por onde ele a arrastava, ambos de respiração suspensa, subindo depressa os degraus da escada nauseabunda, penumbrosa, madeira lascada, gasta pelo tempo. Pedro, excitado, parava a meio para se esfregar nela, e Mónica quase gritava de gozo, prazer que isso despertava nela, curvada sobre o intenso cheiro almiscarado que o pescoço dele guardava, odor a cortar-lhe a respiração, entontecida e sôfrega.
"Não me quero vir já..." murmurava ele a morder-lhe os pulsos febris, breves, algemados pelos seus dedos à parede esburacada. E continuavam subindo a escada, sem fôlego, até ao último andar, patamar onde aparecia uma mulher gorda e pintada, que nas primeiras vezes lhe perguntou a idade - "por causa da polícia...", explicou; mas que nos meses seguintes se limitava a conduzi-los, sem palavras, até ao quarto que lhes alugava, quase vazio. Uma cama, uma cadeira, um candeeiro e um espelho chegavam-lhes durante as horas que ali passavam, nas quais só queriam beber-se, devorar-se um ao outro, misturando os sucos, o cuspo, o prazer, partilhando a posse.
Às vezes Mónica gritava.
dizes-me quero comer de ti a carne macia e rosada entre as tuas coxas. gritar-te por dentro que és minha e
sobre o cheiro intenso que te deixo
imprimir-te as minhas mãos e o meu sexo ardente
como dentes. morder-te a nuca e entrar em ti com a fúria toda de homem. não.
não chega devorar-te o corpo. é nos teus seios
ou entre as tuas pernas que quero todo o meu corpo.
pedro punha-lhe então sobre a boca a palma da mão, que ela mordia, e explodia dentro dela, o corpo muito magro erguendo-se, febril, enquanto a via continuar ainda e ainda revolvendo-se, os dedos excitando-os dentro de si, enquanto se ia masturbando ao mesmo tempo.
dizes-me não sei que fazer a este desejo intenso a este cheiro a mim e a ti
que se cola aos meus dias e
me transporta para aí
onde estás e me reténs. eu sei os teus dedos de cor
e com eles viajo por dentro de ti. cada um prolonga uma parte
do meu corpo. a boca de língua que te penetra
as mãos que te puxam e seguram entre as minhas coxas
e um meu sexo febril que te procura. não há lugar nenhum onde eu
saiba mais de mim
que em ti. caminhar contigo nua
assim
por dentro dos olhos é morrer a cada espasmo. e
reviver a cada vez que te dás. que me dou.
a terra é uma cama gigante. em cada rua eu te possuo com
um nome diferente. em cada rosto eu te olho. e se não chegasse
para enlouquecer de desejo
olho o meu corpo e nada nele nega a tua presença.
o dia a noite e
o céu esse dossel que nos cobre e esconde
dos olhares dos outros servem-nos de quarto. deito-me em ti em cada hora
e em cada vez te inundo do meu sémen. emprenho-te com este segredo
e já és minha mesmo sem o saberes.
volto a ti. nua. deitada. para mim. só para mim.
Eat
Ergo-me pederasta apupado de imbecis,Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sing a song.Sin
I philosophy
Possibly speak tongues
Beat drum, Abyssinian, street Baptist
Rap this in fine linen, from the beginning
My practice extending across the atlas
I begat this
Flipping in the ghetto on a dirty mattress
You can't match this rapper slash actress
More powerful than two Cleopatras
Bomb graffiti on the tomb of Nefertiti
MCs ain't ready to take it to the Serengeti
My rhymes is heavy like the mind of sister Betty (Betty Shabazz!)
L-Boogie spars with stars and constellations
Then came down for a little conversation
Adjacent to the king, fear no human being
Roll with cherubims to Nassau Coliseum
Now hear this mixture, where Hip Hop meets scripture
Develop a negative into a positive picture
Lauryn Hill and The Fugees - Everything is Everything
Everything
Helio Tarallo - Tropicália; autor desconhecido (retirado de http://www.zivil.de/)
Chamo para o meu corpo o mar das memórias ardentes. As mil e uma palavras trocadas no silêncio da tinta negra espalhada sobre páginas de papel pardo. Ouve-me, antes que desistas, ouve o meu corpo sufocando na tua ausência. Peço o socorro das metáforas para anestesiar a dor do vazio. Ou antes, convoco-te para luxuriantes noites de verão, na nossa cama, mas faço-o à luz das palavras-bytes tão comuns à nossa vivência. Vamos. Vens?
Os silêncios da fala
São tantos
os silêncios da fala
De sede
De saliva
De suor
Silêncios de silex
no corpo do silêncio.
Silêncios de vento
de mar
e de torpor
De amor
Depois, há as jarras
com rosas de silêncio
Os gemidos
nas camas
As ancas
O sabor
O silêncio que posto
em cima do silêncio
usurpa do silêncio o seu magro labor.
Maria Teresa Horta
Munch - Madonna; Arnold Genthe - Garbo
A monocórdica sapiência das flores
Antes, ou depois, ou em vez de,
um aglomerado metafísico de
vidrinhos improvisados de
uma janela partida, caída, havia horas, na rua.
A voz sonolenta do homem que
despertava àquela hora que
representava a aurora que
lhe era possível, naqueles dias terríveis.
Antes, ou depois, ou em vez de,
uma torrada queimada de
pão integral esquecido de
quentes dias anteriores a tudo.
O corpo sonolento do homem que
vagueava pela casa que
outrora se enchera de alegria que
nascia de um sorriso de mulher.
imagina o meu corpo deitado sobre a cama. podes tocar-me. toca-me.
antes que o tempo acabe ou a intimidade se intimide,
despe-te tu também,
e deixa-te cair sobre mim.
o mundo, lúcido e frio, desaparece sob a nossa leveza.
esquece-o.
Dalí – A Persistência da Memória; William Newenham Montague Orpen – Nude Study