sublinhar

quinta-feira, setembro 30, 2004

La ciudad


Se hacen de hormigón y de cristal,
de lugares extraños y gentes ocupadas.
En todas crece un árbol
delante de la casa de un suicida
y hay niños que acostumbran a dormirse
soñando con un perro.
No faltan desayunos en hoteles lujosos,
ni tampoco familias con jardín,
pero son más frecuentes
los portales oscuros con pareja de novios,
el beso frío,
la rosa de cemento en la ventana.
Las calles desembocan en plazas descompuestas,
las tardes de domingo en las cafeterías
y el humo de los coches en los ojos del loco
que murmura sus anos
y los cuenta sin fin
de metro en metro.
Al salir de los túneles sentimos
que los cielos de agua
son igual que una carta del pasado,
y suele comprenderse
que la vida es un arma lenta y de doble filo
en los pasos sin nadie,
en las noches vacías
o en la debilidad que tienen
las ciudades por los cines de barrio
y por las taquilleras muy pintadas.
A pesar de los plátanos, los olmos y los tilos,
a pesar de la hierba, si es que hablamos del Norte,
Ia gente que nos mira,
la gente que se salta los semáforos,
la que fluye delante de las tiendas,
necesita el amparo
de otra vegetación,
un sigilo de números y tarjetas de crédito
que extiende sus raíces por los sótanos
y busca soledad en los desvanes
como los muebles y las ratas viejas.
No es inútil viajar,
porque es cierto que todas las ciudades
amanecen de un modo parecido,
pero la noche llega en cada una
de manera distinta.
De día pueden verse
secretarias, conserjes, policías,
músicos callejeros y soldados,
dependientas que escuchan y sonríen,
oficinistas con olor a instancia,
conductores, extraños sacerdotes,
ejecutivos humillados.
Igual en todas partes,
porque apenas existen los kilómetros.
Pero existe la noche,
la soledad que borra los oficios
en un mundo habitado solamente
por hombres y mujeres,
confidencias de amarga valentía.
En las ciudades pueden encontrarse
relojes que se paran en la última copa,
la luna sobre un taxi
y todos los poemas que te escribo.
Luis García Montero

Disciplina Secreta


La casa como barco
en alta mar de junio.
Las calles como trenes
de noche sosegada.
Estas cosas no pasan en el mundo.
Estoy por afirmar
que ahora vivo en un libro de poemas.
Pero si tú me miras,
decidida a existir
desde el fondo templado de tus ojos,
también existe el mundo.
Y muy probablemente
yo acabaré por existir contigo.
Luis García Montero

She


May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive...

Só posso estas palavras, agora

Se me perguntarem, só poderei responder que não sei porquê. Se me perguntares tu, só poderei responder que me faz demasiada falta um silêncio cúmplice, intimo.

Há demasiada realidade todos os dias, demasiado cansaço, demasiados assuntos a resolver, demasiados futuros e tanta incerteza espalhada, e ao mesmo tempo nenhum desejo de certezas.

Quero abraçar-te não em planos vácuos de um futuro algures, mas sim hoje. É hoje que preciso, também, do teu abraço físico. No entanto, e como sempre, a coisa mais fácil a fazer é tentar encenar uma espécie de desistência refugiada no silêncio, no fundo fugir da necessidade e do desejo de sonhar. Desde um passado demasiado recente sinto-me incapaz de ousar sonhar na realidade de todos os dias para além do limitado apartado em que existo.

Continuo a querer estar contigo em qualquer lugar do mundo e descobrir.......mas hoje falta-me a força para mover montanhas ou simples pedras da calçada.

Hoje, ainda, tudo que posso são estas palavras.

Desculpa, mais uma vez tudo que tenho são fragmento.....palavras.

terça-feira, setembro 28, 2004

Ser livre

"Nunca se pode ser tão livre quanto se deseja, quanto se quer, quanto se teme, quiçá quanto se vive"
Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro

segunda-feira, setembro 27, 2004

Indeciso



Alguma sugestão?

sexta-feira, setembro 24, 2004

Frase do dia

S3
[conservar em lugar fresco]

A lista

Ele acorda sem adjectivo, olha o relógio e assusta-se porque já há muito passou a hora em que se devia levantar. Claro que depois do susto se acalma de novo, envolve a almofada com os braços e repousa nela a cabeça. Fecha os olhos e diz para si próprio, em segredo: Amanhã, é já amanhã. Depois, lentamente, muito lentamente, levanta-se e começa mentalmente a rever a lista: isto sim, aquilo não é importante fica para segunda, prometi isto, tenho que acabar aquilo. Depois dirige-se ainda meio a dormir para o duche, a água demora a aquecer, não aquece, está fria. Duas opções: mudar a garrafa de propano lá fora ou...argh água fria, lá terá que ser. Pelo menos agora está acordado, levo o carro ou vou a pé? Tantas perguntas e ainda pouco passa das nove. Vou a pé. A escola outra vez cheio de barulho, tenho mesmo que me mudar. Depois o trânsito, é sexta-feira há sempre mais trânsito. Tomar café, fumar. Outra vez a lista.... Toca o telemóvel, mudanças na lista. E depois esta preguiça, se eu fosse muito mentiroso diria que é um efeito das temperaturas altas, mas não é. Já se passou uma hora, na lista mental estão cortados dois pontos de quinze, e foi acrescentado um. Um momento de espera e depois de regresso ao trabalho. Amanhã é sábado. Finalmente.

quinta-feira, setembro 23, 2004

Talvez...mas ainda não sei

“AQUILO DE QUE SOMOS FEITOS”
LIA RODRIGUES
E COMPANHIA DE DANÇAS
25 SET 2004, Sáb, 17h00 e 22h00, [Auditório Serralves]

Adenda: Afinal não vou mesmo.

Coordenadas

Latitude: 43° 09' North
Longitude: 131° 53' East

Frase do dia

R6
[explosivo em contacto e sem contacto com o ar]

From safety to where...?


No I don't know just why.
No I don't know just why.
Which way to turn,
I've got this ticket to use.

Through childlike ways rebellion and crime,
To reach this point and retreat back again.
The broken hearts,
All the wheels that have turned,
The memories scarred and the vision is blurred.

No I don't know just why,
Don't know which way to turn,
The best possible use.

Just passing through, 'till we reach the next stage.
But just to where, well it's all been arranged.
Just passing through but the break must be made.
Should we move on or stay safely away?

Through childlike ways rebellion and crime,
To reach this point and retreat back again.
The broken hearts,
All the wheels that have turned,
The memories scarred and the vision is blurred.

Just passing through, 'till we reach the next stage.
But just to where, well it's all been arranged.
Just passing through but the break must be made.
Should we move on or stay safely away?
Joy Division

Hoje,

tirando a conclusão mais ao menos óbvia de que o mundo é a cores, há muito pouco para dizer.

terça-feira, setembro 21, 2004

Hoje à noite

Escrita hermética

Imaginem. Imaginem um homem sentado numa cadeira do escritório, sozinho, trabalhando frente ao computador. De repente, num momento motivado por uma certa incidência de luz na mesa de vidro fosco onde escreve, ele levanta a cabeça e olha pela janela o prédio em frente. A esta hora da manhã, ele sabe, do outro lado da rua o escritório da imobiliária vizinha têm as portadas das janelas fechadas porque a luz solar bate lá de frente. Tal como o seu escritório, pensa o homem, eles também não têm estores. Mas, e isso é que é importante, quando o homem levantou a cabeça para olhar lá para fora, uma pessoa passava na rua. Bom, passavam muitas pessoas. Esta, no entanto, andava mais devagar e chorava, depois desapareceu na curva da rua. Este é só um momento, uma personagem sem muito sentido que entra pelo lado direito do palco, sai pelo lado esquerdo, bem lá no fundo, sem dizer nada. Bom, podem tentar acreditar que era uma personagem simbólica. Mas em segredo vos posso dizer que as pessoas têm sua própria vida e tudo, bom quase tudo, que fazem não tem como finalidade chamar a nossa atenção para um verdade fundamental. Assim, o homem volta ao trabalho e pensa, afinal a vida não é como o teatro, existem demasiadas peças em cena ao mesmo tempo para que alguma coisa faça um sentido pleno de descoberta. Não sei porquê, mas isto faz com que o seu pensamento seja levado a algumas teorias do caos, já sabem se uma abelha na China, blá, blá blá. Mas pensem, imaginem que hoje este mesmo homem ao sair de casa se esquece da chave do carro, volta para trás, demora a encontrá-la, quando regressa à rua encontra uma amiga que não via há anos, conversam dois minutos sobre nada, e ele pensa: Talvez, por vezes, recorra à solidão como desculpa infantil para não sofrer. E ela diz: Sabes, nunca percebi porque é que de um momento para o outro nos deixamos de ver, completamente. Ele por segundos pensou que tinha dito aquilo que pensou, depois sorriu, isto acontece tantas vezes que é completamente desnecessário racionalizar. Sorriu, falou também, nada de importante, depois foi trabalhar. Este é o mesmo dia da luz, da mulher que chora, etc. O que o leva a pensar: ainda não são onze da manhã, trabalhei pouquíssimo e aposto contra todas as hipóteses ao querer tirar um significado preciso de actos aleatórios que ao serem combinados entre si levam a que tudo seja possível: no passado, no presente, no futuro. Ou seja, e por aqui se interrompe este duvidoso pensamento sobre a vida, no interior de cada um de nós um número ainda não definido de acontecimentos faz com que todos os dias sejamos este ser que conhecemos, depois cada um de nós, mais um número indefinível de animais, vegetais, minerais, etc., com a nossa simples presença ou o nosso movimento desencadeamos um conjunto de acontecimentos. Tudo isto é apenas acessível no quotidiano se fizermos a síntese do que acontece, tomando-nos como o centro de tudo. Então porque é que insistimos em pensar que existe um sentido para a vida? Obviamente porque não existe. Essa é aliás a verdadeira chave do pensamento: adivinhar a existência de alguma coisa que não existe.

domingo, setembro 19, 2004

Este é o som das palavras, silêncio.

"Amanhã, depois de amanhã...depois
de amanhã...é assim que de dia para dia,
a pequenos passos, vamos deslizando até à
última sílaba do tempo; todos os nossos
ontens foram outros tantos loucos que nos
abriram caminho para a poeira da morte.
A vida é apenas uma sombra que se move; um pobre
actor que dá cabriolas e se agita durante uma
hora, em cena e de que se não torna a ouvir falar.
É um conto narrado por um idiota,
um conto cheio de barulho e de fúrias,
mas que nada significa."
Shakespeare, "Macbeth"

Acontece por vezes o homem sentado a meio da noite na cozinha de sua casa, enquanto fuma um vago cigarro, perguntar-se a si próprio sem nenhum propósito filosófico nítido: de que serve tudo isto?
Certo é o homem, sentado a meio da noite na cozinha de sua casa, desistir muitas vezes de pensar o porquê dessa absurda realidade: o eu.
Claro que ele está sozinho em casa e não é nítido para ninguém que procure não estar exactamente assim, sozinho nessa casa.
Mas imaginem, o homem levanta-se, digere-se lentamente para o quarto e quando abre a porta pensa: provavelmente a existência não existe sem algum significado. Será que é a cada um de nós que cabe atribuir esse significado sobre a história ainda tangível do que vivemos?
Reparem com atenção, o homem deita-se longe das certezas e imagina que será sempre assim. Porquê? Talvez porque esse mesmo passado ainda isento de significado conduza a este preciso momento de solidão e a pergunta seja, mais que um eco de um pensamento antiquíssimo, a solução para um futuro. O futuro pensa o homem, é um conjunto de passos incertos rumo a esse significado que, no fundo, não existe. Talvez por isso, o homem antes de adormecer pense: se persigo aquilo que chamam o momento eterno, talvez não seja apenas porque me guia o instinto do lugar-comum, talvez seja antes porque procuro alguma coisa que transcende, em ti, o lugar, o tempo, ou de outro modo a vida.

Este mesmo homem, quando acorda de manhã e se dirige titubeante para o emprego pensa ainda: qual o espaço em mim que tu podes ocupar? E a si próprio responde: o todo, o único espaço que possuo.

terça-feira, setembro 14, 2004

Les amants


René Magritte

Diálogos entrevistos

- O que perguntas exactamente?
- Não sei…é algo que se situa além das palavras…
- Ao alcance dos gestos…mas são precisamente os gestos que estão fora do meu alcance…
- Isso diz tudo sobre nós…
- Realmente pensas isso?
- Não, sabes que não.
- Eu sei que deveria jurar-te que posso encher de realidade os sonhos, mas não posso.
- Eu sei…
- Devia dizer que quero que sejas feliz…que por isso me afasto…mas esta conversa desmentiria isso…
- E o que queres?
- Um sonho impossível
- Pára de falar assim…
- Está bem. Quero abraçar-te, beijar-te…agora.
- Impossível mesmo.
- Será?

segunda-feira, setembro 13, 2004

A walk on the memory lane

Na hora de almoço, no carro, a caminho de casa:

Faz impressão o trabalho
que se tem em ser superficial
Faz-me impressão e baralho
o vulgar e o intelectual

Sinto depressão conforme
perco tempo essencial
Sofro uma pressão enorme
para gostar do que é normal
(...)
GNR - Impressões Digitais

sexta-feira, setembro 10, 2004

A persistência da memória


Salvador Dalí

Artefactos da Memória

Um homem velho escondia dentro de um relicário um par de meias velhas pertencentes a um combatente espanhol dos tempos da guerra civil. Nunca cheguei a saber se o militar era republicano ou estava do lado de Franco, certo é que morreu algures na Catalunha durante um combate. As meias, umas meias pretas normais, não provaram nunca ser mais do que aquilo que efectivamente eram: umas meias vulgares particularmente sujas. Nem mesmo o velho que as guardara lhes atribuía outro significado que não esse: uma meias velhas pertencentes a blá, blá, blá. Ele próprio não conhecia o militar nem de nome e resumia o acto de ter guardado durante 40 anos aquelas meias a uma simples frase: Quando passei por aquele campo após o combate e vi o rapaz deitado no chão, estranhamente agarrado não a uma arma mas a um par de meias decidi que as devia guardar e portanto cá estão.
O que é certo é que depois do velho morrer eu mantenho o relicário e as meias lá dentro. Sugiro sempre às visitas que isso é apenas mais um atractivo desta casa que comprei a esse mesmo velho, mais uma história paradoxal de outros tempo e de outros lugares.
Por vezes, não sei se por efeito de viver nesta casa sozinho longe de tudo, quando penso nesse par de meias julgo perceber um significado escondido nesta história, e no facto irónico de existir um par de meias sujas encerrado num relicário há mais de sessenta anos.

terça-feira, setembro 07, 2004

Quotidiano [1]

Começa: Anseio permanentemente por um sonho. A sua concretização não é, aliás, essencial. Procuro apenas a sua natureza diáfana, a ilusão da ilusão. Imagens. A câmara, ou será apenas um olhar?, sossega então na figura de um homem sentado na esplanada de um pequeno café. Ele lê o jornal, concentrado. A câmara, o olhar, aproxima-se lentamente revelando pormenores da figura: há um cigarro acesso que descansa no cinzeiro, o jornal é de língua inglesa, uma chávena de café aguarda em silêncio que lhe coloquem o açúcar e o rosto do homem dissimula mal uma espécie de pânico, de medo profundo. O que ele lê? A câmara, tenho quase a certeza que não é uma simples câmara mas um olhar, roda em volta da mesa, apresenta-nos agora a figura de costas, cabelo preto (olhos azuis pensarão alguns – mas não, de facto os olhos são castanhos já os vimos, antes). Deste ângulo a câmara, que se converte numa pessoa (o olhar), permite-nos ver o que lê o homem: A morte de uma mulher nas páginas do jornal. Outra mulher (a pessoa, o olhar) senta-se então ao seu lado, a imagem do seu rosto (o olhar dele agora) revela uma lágrima que desce lentamente pela sua face. Somos levados a pensar: Ela descobre a cada segundo que a memória se infiltra no quotidiano, obstinadamente, e que tudo que ganhamos perdemos...e mais uma série de lugares comuns. Talvez por isso o sorriso (dela) que a câmara (o olhar dele) capta. Ele pergunta: de que país de longe és tu? E que segredos guardas na impaciência dos teus actos? Ela não responde, a câmara (o olhar de ambos?) pára entre o pacote de açúcar, a chávena de café e a notícia no jornal agora pousado sobre a mesa. Ele, impaciente (sentindo-se culpado?) diz: Não posso fugir a ser aquele que sou. A câmara (o olhar de quêm?) mostra agora uma árvore perto da esplanada, lentamente eles desaparecem e uma voz (a dela?) ouve-se murmurando: Quêm?

segunda-feira, setembro 06, 2004

memória de poeta

não sei a que atribuir esta dimensão de fuga
de cada passo que uso para realizar o futuro.
é um mistério também o lugar onde repousam
essas constantes vozes que ouço.

quero dizer-te: sou feliz nesta corrida.
mas existem demasiadas sombras no espaço
dos sonhos.

as palavras existem talvez como
o mínimo refúgio onde ainda vivem
as memórias cobiçadas do meu corpo.

esta noite uma aranha preta visitou o
tecto do meu quarto, repousou
na cruz desenhada por mim
que reflecte já não me lembro que tesouro
escondido.

este é o sonho de outro.
ouve-o. não o ouças.

domingo, setembro 05, 2004

.....

Jean Cocteau

sexta-feira, setembro 03, 2004

Tentador...


quinta-feira, setembro 02, 2004

Esquadros


Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que tem fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
E os automóveis correm para que?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cade?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cade você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Adriana Calcanhotto

quarta-feira, setembro 01, 2004

Violência

Hoje na capa do Público está uma fotografia que nos devolve o horror da violência. É uma foto de Ariel Schalit sobre o atentado de ontem em Israel, a foto mostra um coelhinho de peluche deitado sorridente por detrás de um vidro estilhaçado. A legenda diz-nos aquilo que nem precisava ser dito: "Nos atentados de ontem em Israel morreram pelo menos 16 pessoas, entre as quais uma criança”. É essa criança cuja intimidade e sorriso vemos ao olhar para a foto. No meio de tantas dezenas de mortos diários, no meio da avalanche informativa, no meio das imagens cada vez mais explicitas, a verdadeira violência só nos consegue tocar assim e por um dia que seja percebemos no mais íntimo de nós o que verdadeiramente significam as notícias.

De mão em mão


Se te sentires perdido numa noite assim
Em que estrelas se misturam pelo chão
Com o vento e a poeira
As lembranças e os cansaços
Que te fazem procurar...o teu olhar
Se te sentires perdido numa noite assim
A deriva pelo meio multidão
Sem saber qual e o caminho certo
E o momento de parar....e ouvir a voz do teu coração
Pode ser que encontres no olhar de alguém
O teu mundo perdido
A cor do teu céu...
Uma chama que a lua faz dançar no escuro
Um desejo escondido...
E o que ficou...
Nos teus sentidos...
De alguma canção
Na rua um silencio colado a pele
A noite acende um mundo no teu peito...
E vais talvez mais dentro mais longe do que nunca
Para tentar tocar o fundo com as mãos
Pode ser que encontres no olhar de alguém
O teu mundo perdido a cor do teu céu...
Uma chama que a lua faz dançar no escuro
Um desejo escondido
E o que ficou...
Nos teus sentidos...
De alguma canção
Enquanto te confundes nos gestos loucos a multidão
Enquanto sopra o fogo distante e cresce de mão em mão
Pode ser que encontres no olhar de alguém
O teu mundo perdido a cor do teu céu
Uma chama que a lua faz dançar no escuro
Um desejo escondido
E o que ficou...
Nos teus sentidos...
Da alguma canção

Mafalda Veiga