sublinhar

quarta-feira, julho 30, 2003

Não resisti a transcrever isto:

“Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade, e a hiper-excitação.”

Livro do Desassossego, Bernardo Soares

[in I.D.]

terça-feira, julho 29, 2003

Sem título

Gosto desta ideia de atirar palavras ao mundo. Gosto de saber que alguém lê aquilo que escrevo. Gosto desse alguém.
Gosto dos acasos que trazem o visitante aqui. Gosto que esses visitantes se afastem com opinião, boa ou má, sobre mim. Gosto ainda mais dos que voltam.
Gosto de quem comenta. Gosto dos comentários. Gosto de gostar de tudo isso.
Gosto que me citem. Por vezes gosto menos porque me dão importância demais.
Gosto de estar aqui presente. Gosto também de estar ausente.
Eu gosto de gostar asssim.

[in I.D.]

segunda-feira, julho 28, 2003

Crime e castigo (4)

De Borges sobre Dostoiévski:

“Como a descoberta do amor, como a descoberta do mar, a descoberta de Dostoiévski marca uma data memorável da nossa vida.”

Mais à frente:

“No prefácio de uma antologia da literatura russa Vladimir Nabokov declarou que não encontrara uma única página de Dostoiévski digna de ser incluída. Isto quer dizer que Dostoiévski não deve ser julgado por cada página, mas sim pela soma das páginas que compõem o livro.”

[in I.D.]

A inércia

É muito fácil encontrar-mos, no nosso dia a dia, desculpas para não escrever, adoro o meu blog por ele ser um motivo para escrever.
Adoro que ele seja um motivo para “combater a inércia, um mal maior do que todos os males.” (Flor de Obsessão)

[in I.D.]

A blogosfera

Identifico-me com estas palavras de JPP no Abrupto: “Eu sou liberal no sentido antigo, prezo a chuva e o mau tempo, a fúria e a calma das discussões, e gosto de ouvir muitas vozes diferentes.”
A blogosfera apresenta, cada vez mais, uma multiplicidade de vozes que apenas têm em comum o veículo que utilizam para se fazer ouvir. Para além das vozes dos “conhecidos” que aqui assumem outra forma (mais imediata, mais livre (?)), encanta-me a descoberta de pessoas “novas”, de pequenos novos mundos, nichos da diversidade.
Uma cacofonia, sim. Que bom.

[in I. D.]

quinta-feira, julho 24, 2003

Com esperança

Em minha casa os projectos interrompidos jazem em cima da mesa grande. A mesa é propositadamente grande para que muitos projectos interrompidos possam nela encontrar descanso.
E eu, quando calha de passar pela mesa grande, vejo em cada um daqueles fragmentos de mim um tijolo que espera a construção de um novo eu.

[in I.D.]

Sem esperança

Em minha casa os projectos interrompidos jazem em cima da mesa grande. A mesa é propositadamente grande para que muitos projectos interrompidos possam nela encontrar descanso.
E eu, quando calha de passar pela mesa grande, vejo naquele monte de projectos interrompidos um reflexo de mim, a minha imagem reflectida no espelho do meu fracasso.

[in I.D.]

Arrumar a casa (2)

Este blog parece mostrar sinais de falta de orientação.
Esta politica de colocar aqui tudo que me apetece pode causar a desorientação do leitor, portanto vou tentar explicar a minha politica editorial:
Este blog não é sobre isto ou aquilo, não tem como propósito comentar a actualidade ou o passado, não mente mas também não diz a verdade toda, não é sério mas também não é cómico, não pretende nem é pretendido, tem opinião mas também se detém para pensar, existe mas pode deixar de existir.
ESTE BLOG SOU EU.
(Admito que me agrada ter o poder absoluto sobre este meu reino)

[in I.D.]

Arrumar a casa (1)

Comentários

Desde ontem, este blog tem um sistema que permite o comentário dos leitores.
Por enquanto, é uma experiência a ver no que dá.
Portanto, comentem, se quiserem.

[in I.D.]

Un Día

Andas por esos mundos como yo; no me digas
que no existes, existes, nos hemos de encontrar;
no nos conoceremos, disfrazados y torpes,
por los anchos caminos echaremos a andar.

No nos conoceremos, distantes uno de otro
sentirás mis suspiros y te oiré suspirar.
¿Dónde estará la boca, la boca que suspira?
Diremos, el camino volviendo a desandar.

Quizá nos encontremos frente a frente algún día,
quizás nuestros disfraces nos logremos quitar.
Y ahora me pregunto... Cuando ocurra, si ocurre,
¿Sabré yo de suspiros, sabrás tú suspirar?

Alfonsina STORNI

[in I. D.]

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

[in I. D.]

quarta-feira, julho 23, 2003

ID (6) – Pensamentos perfeitos

Amo-te

[in I.D.]

ID (5) – Pensamentos quase perfeitos

O inesperado é uma óptima justificação para continuar vivo.

[in I.D.]

ID (4) – Pensamentos imperfeitos

Não sei se me faltam objectivos na vida ou se me coloco propositadamente objectivos inalcançáveis. Portanto não sei se o que me dói é não ter objectivos ou não atingir os objectivos que tenho.

[in I.D.]

terça-feira, julho 22, 2003

Temas (4) – Serviço Militar Obrigatório (SMO)

Também na discussão sobre o SMO os portugueses revelam a sua tendência para omitir o importante e preferir o insignificante.
E o importante é saber se desde a entrada da primeira mulher nas Forças Armadas (não sei em que ano ocorreu) a Lei que estabelece o SMO respeita ou não a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem e, claro, a Constituição da República Portuguesa. E saber qual o efeito que teria um processo de todos os prejudicados pelo SMO junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que tem o hábito de estabelecer penas em forma de multas pecuniárias
Estou certo que o eterno debate sobre a falta de dinheiro para as Forças Armadas totalmente profissionais iria acabar de vez.
E talvez depois se pudesse começar a discutir, com inteligência, a necessidade de ter SMO em Portugal.

[in I.D.]

Oração

Lembro-me das palavras partilhadas,
Dos teus cabelos molhados da chuva
E do sabor quente da tua pele.
Mas lembro tudo sem exactidão
Como se não existisses já
Apenas o teu sorriso é hoje.

Posso, enquanto durmo,
Recordar os teus olhos negros
E o lento mexer dos teus lábios.
Mas é sem ver que os vejo
É do esquecimento que surgem,
Apenas o teu sorriso é hoje.

E quando a memória dos teus gestos
Me surge durante o sono
E a insuportável palavra amor
Acorre aos meus lábios do passado
Acordo tremendo e sei, que
Apenas o teu sorriso é hoje.

[in I.D.]

segunda-feira, julho 21, 2003

ID (3)

“Um quietismo estético da vida, pelo qual consigamos que os insultos e as humilhações, que a vida e os viventes nos infligem, não cheguem a mais que a uma periferia desprezível da sensibilidade, ao recinto externo da alma consciente.

Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.”

Livro do Desassossego – Bernardo Soares
(Assírio & Alvim)

[in I.D.]

Fragmentos (2) – Um lugar, que lugar

Há um lugar físico na minha cidade que é mais lugar imaginado na minha memória do que o lugar físico que realmente é. Passo por lá e não sinto o empedrado da rua que é, não vejo a igreja que também é, e sou transportado para um tempo que foi.
E como não recuso o ridículo da minha pessoa, relembro sempre um amor adolescente que não chegou a ser. Transformo-o numa miríade de destinos fabulosos que recusei, e sinto-me triste, de uma tristeza irónica em que não chego a acreditar.
Como, se ter-te beijado fosse a porta para ser tudo que não fui.
A única coisa que redime o adolescente que fui é a desculpa freudiana da criança que também fui.

[in I.D.]

Crime e Castigo (3) – A teoria

Raskólnikov, o protagonista do livro, teoriza que as pessoas podem ser divididas em dois grupos: os “vulgares” e os “invulgares”. Segundo ele, a vida dos primeiros serve apenas para procriar e obedecer aos outros (sem que isto os humilhe particularmente, dada a sua natureza), enquanto os segundos são os “inovadores”, que trazem o desenvolvimento da humanidade e por isso devem assumir alguns privilégios. Entre esses privilégios encontra-se o direito, não penal, mas individual (de consciência) de cometer crimes se estes forem importantes para o desenvolvimento das suas obras.
Aliás os “invulgares”, os génios, reconhecem-se por essa capacidade de não se contraírem perante a adversidade, e de não rejeitarem o crime caso seja necessário à prossecução do seu fim (ver Napoleão).
Raskónnikov, ele próprio, se julga um génio. Como tal reconhece a si próprio o direito de cometer um crime, matar uma velha usuária, para atingir um propósito mais amplo, arranjar dinheiro para começar a sua carreira.
Resumindo, se pertencemos ao grupo dos “invulgares” temos o direito de cometer um crime, se este nos é imprescindível, e a forma como convivemos com esse crime é também definidora do nosso estatuto. Ou seja, cometer o crime e nem pensar nisso duas vezes define os “invulgares”, todas as outras opções nos definem como “vulgares”.
Algo que atormenta Raskólnikov durante todo livro é precisamente o facto de ele não conseguir se libertar da pressão/culpa(?) de ter cometido um crime. Descobriu-se “vulgar” depois de matar a velha usuária e a irmã dela, o que o atormenta mais que o crime que cometeu.

Esta teoria é filha de um tempo bem definido, o alvor da ciência moderna. E esta, como sabem, é mãe espiritual de grande parte dos crimes colectivos do fim do séc. XIX e primeira metade do séc. XX.

PS: A escolha do poema do post anterior não é, evidentemente, pura coincidência.

[in I.D.]

ID (2)

“Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.”

Excerto de Tabacaria - Álvaro de Campos
(Ficções do Interlúdio - Assírio & Alvim)

[in I.D.]

Temas (3) – Cultura do sound-byte

A simplificação das discussões sobre os temas realmente importantes é um fenómeno claramente potenciado pelos media. Hoje em dia não é possível encetar um verdadeiro debate através dos media tradicionais, mas temo que também não seja possível através de meios como este que nos acolhe.
Penso que mais do que um questão dos media, esta é já uma questão cultural. E o sound-byte está a tornar-se a forma privilegiada de comunicação dentro e fora dos media.

[in I.D.]

Temas (2) – A justiça

Os portugueses são alérgicos às discussões sobre os grandes temas. Tendem a transformar a discussão numa amálgama de pequenos mexericos e bizarrias.
Com a recente questão da justiça passa-se isso mesmo, fala-se da idade e vestuário do juiz Rui Teixeira, fala-se em cabalas contra o PS, discorre-se sobre os casos pendentes e a substituição de juízes. Pelo menos já se vai ouvindo falar dos direitos fundamentais mas não se pára o minuto para pensar na questão inicial: a falta de legitimidade democrática do nosso poder judicial.
Depois não podemos estranhar que se diga (neste caso foi no fórum da TSF) que em democracia não há nada acima dos tribunais.

[in I.D.]

domingo, julho 20, 2003

Temas (1) – As ideias, a cidade e a Internet

Ao longo da história, e nesse aspecto o séc. XX não foi diferente, o surgimento de novas ideias e novos movimentos tem sido um fenómeno quase exclusivamente citadino. Tenho para mim que nos últimos anos tal tendência não se alterou. Mas a verdade é que as possibilidades em termos de informação e principalmente comunicação abertas pela WWW podem de futuro descentralizar (aqui no sentido de anular a ideia de centro) o aparecimento quer das grandes ideias quer dos grandes movimentos. Também pode acontecer que nada disso suceda, resta esperar e ver.

PS(1): Queria deixar claro que ideias e movimentos são aqui usados em sentido muito amplo e pretendem incluir ideias politicas e sociais, avanços científicos, renovações nas artes, etc.

PS(2): Evidentemente, nada do que foi dito se aplica à “pseudo-descentralização” dos movimentos anti-globalização que tão devedores são de fenómenos de moda urbana, cosmopolita e televisiva.

[in I.D.]

Crime e Castigo (2) – A Cidade

A história do livro é uma história de cidade. Só na cidade se encontra essa mistura de Liberdade e Solidão capaz de enquadrar a resolução de Raskólnikov. Só na cidade existe esse emergir de ideias novas capazes de mudar o destino do indivíduo e do colectivo. E finalmente, é na cidade que emerge o sentimento de desespero e angústia de quem tudo tentou e nada conseguiu. Porque a cidade, e atenção para a sua natureza administrativa, é o ultimo ponto de recurso, o lugar ultimo de todas as esperanças, e quando estas não resultam, de todas as desesperanças também.
A cidade proporciona o encontro de um conjunto de personagens atormentadas que, talvez com a excepção da mãe de Raskólnikov, são todas personagens citadinas, quase cosmopolitas no seu desespero.
A cidade é S. Petersburgo, mas é mais a Cidade que Petersburgo.

[in I.D.]

ID (1)

Tenho dias em que me sinto nulo, em que renuncio a viver quotidianamente.
Nesses dias, escrever parece-me o desfiar de nada. Um gesto lento e sem fé, como o rezar a um deus que se sabe não existir.
Mas se tenho que acreditar em algo mais vale que sejam as palavras do que um deus ausente.

[in I.D.]

sábado, julho 19, 2003

Fragmentos (1) – Também um objecto quase desaparecido

As minhas recordações de infância confundem-se amiúde com um rectângulo verde feito de cartão. Lembro-me de acordar ás sete da manhã do primeiro dia das férias de verão, e descer as escadas da casa, ainda adormecida, dos meus avós, para instalar esse rectângulo mágico na mesa da sala.
O rectângulo, como alguns advinham, era a peça chave de um jogo chamado Futebol de Mesa. Era ainda um tempo onde a criança, eu, tinha que movimentar manualmente todos os onze jogadores de cada equipa. Onde a imaginação não era potenciada por lindos gráficos mas voava livremente a partir de um pedaço de cartão verde. E esse cartão levou-me a conhecer todos os países do mundo (eu tinha a megalomania de fazer campeonatos que envolviam todos os países do meu velho atlas), levou-me a descobrir a diferença e a parecença que existe nessa diferença.
A esse pedaço de cartão, e aos vinte e dois bonequinhos que o acompanhavam, devo os momentos mais felizes (também porque dos mais ingénuos) da minha vida.
Tenho agora à minha frente um exemplar desse cartão e amo-o, com o amor que guardo para a criança que fui.

[in I. D.]

sexta-feira, julho 18, 2003

Crime e Castigo (1)

Acabei de ler o “Crime e Castigo” há dois dias. Como ontem anunciei, este livro vai ser meu tema recorrente nos próximos tempos. Pretendo reflectir sobre ele numa perspectiva exclusivamente pessoal.
Não será uma reflexão de especialista literário, nem de crítico, nem de um grande observador da Rússia, nem de estudante de literatura, nem de apóstolo cultural (como tanto se vê nos blogs). Eu não sou nada disso, nem quero ser.
Quero mais reflectir o livro em mim do que o livro em si.
Por isso não se espantem com as direcções que essa meditação irá levar.

[in I.D.]

O Nome (2)

O nome deste blog, aliás como a frase que o encabeça, provém do Livro do Desassossego. Não é casual a minha insistência em trazer Pessoa, principalmente Bernardo Soares, para a blogosfera.
Tenho facilidade em imaginar o poeta a escrever um blog, de posts nocturnos, talvez chamado “Floresta do Alheamento”

[in I.D.]

O Nome (1)

A linguagem por mim utilizada no Odi Profanum Vulgus et Arceo nunca correspondeu ao meu desejo, à minha vontade. Li o que por lá escrevi e vi-me pedante, e pedinte dos elogios dos outros.
Tudo isso não resultou tanto num problema do sentimento a transmitir mas mais na forma de transmissão. Que se viu estropiada pela meu medo e vaidade.
Por isso resolvi mudar e esquecer essa história breve.
E agora encontram-me aqui.

[in I.D.]

Começa assim:

"Ao entardecer de um dia muito quente de inícios de Julho, um jovem saiu do cubículo que subalugara na ruela S... e pôs-se a caminhar lentamente, como que indeciso, na direcção da ponte K."

Nos próximos dias é este o tema que irá ocupar este blog.
Quero pensar. Não quero ter opinião.
Prefiro qualquer dúvida à mais certa das certezas.

[in Intervalo Doloroso]

Mudança

Mudei de casa. A partir de hoje encontram-me aqui: Intervalo Doloroso

[in Odi Profanum Vulgus]

sábado, julho 12, 2003

Tinha que ser

Andava eu questionado-me sobre se a forma deste blog, e da sua escrita, se adpatava à transmissão do meu querer, quando, talvez por intervenção divina, o pc que suportava estes meus esforços morreu. Depois do técnico ter estabelecido a sua morte às 13.44 do dia 9 de Julho, e ainda a recuperar do meu desgosto, resolvi interromper os posts enquanto não compro (que palavra tão feia) outro pc que me mantenha ligado ao mundo.
Se hoje, graças a um amigo, aqui escrevo, é apenas para informar que não sei se continuarei com o Odi ou se mudarei de casa.

[in Odi Profanum Vulgus]

domingo, julho 06, 2003

Vale a pena?

O Guerra e Pas tem um post muito interessante sobre “fazer as coisas da maneira certa” no nosso Portugal.

Modestamente dou a minha contribuição para o tema:
Eu tenho por hábito esperar pelo sinal verde para peões antes de atravessar a rua. O que por si só é estranho aos hábitos dos portugueses. Mesmo naquelas situações em que não se vislumbra um carro nas proximidades, se por acaso estiver perto de mim uma criança, fico à espera do sinal. Pretendo com isso dar uma pequena ajuda aos pais que no meio da selva urbana tentam educar os seus filhos.
Esta minha "mania" já dura há algum tempo e os resultados são assustadores. Regra geral fico estupidamente parado enquanto toda gente atravessa a rua com o sinal vermelho. E já vi de tudo: pais que momentos antes palestravam com os filhos sobre os sinais de trânsito a atravessarem em vermelho; crianças a tentarem fazer pedagogia com os pais e a serem arrastados por estes; e o mais vulgar é mesmo atravessar no vermelho sem falar e sem pensar.
Só me consigo lembrar de uma vez em que este hábito se revelou produtivo. Tive o prazer de assistir a uma mãe que tentando ensinar ao seu filho as regras básicas de comportamento cívico esperava o sinal verde numa rua completamente deserta. Cheguei eu, e também por ali fiquei parado. A mãe, percebendo porque estava eu ali especado, dedicou-me um sorriso de agradecimento.
Agradeço-lhe muito por me ter mostrado que valia a pena.

Concluindo: Mais um post a favor do desejo de desafinar.

[in Odi Profanum Vulgus]

Esperança

Depois de colocar o post anterior lembrei-me de uma pequena história:

A NTV tinha em tempos um programa que consistia em colocar um pequeno palanque numa rua do Porto e permitir aos passantes discursar ao "bom povo português", talvez se lembrem de ver. Tudo, naturalmente, muito mau. As pessoas falavam de trânsito, de futebol e arpoveitavam para criticar o Rui Rio por qualquer motivo.
Mas certo dia (acreditem que merece este começo de conto de fadas) subiu a esse palanque uma rapariga de uns doze ou treze anos. A primeira frase que disse, ainda hesitante, foi: "Quero falar de livros". E prosseguiu com um discurso por vezes incongruente, outras simplesmente inocente. Mas a cada repetição da palavra livro, a cada declaração de amor à leitura, a sua voz tremia e acabou quase em lágrimas. (E não pensem que estou a inventar ou exagerar, foi mesmo assim).

Pessoas assim são um óptimo motivo para continuar a escrever e a insistir em me fazer ouvir. É para elas que serve mais uma pessoa a desafinar.

[in Odi Profanum Vulgus]

Cacofonia

JPP no Abrupto incita cada um de nós a juntar a sua voz à cacofonia deste mundo, o real e o virtual. Tal como JPP reconheço haver "virtudes" na cacofonia, acredito aprender mais com a dissonância do que com a concordância.
Mas num espaço ocupado pela vulgaridade e pela procura do éxito fácil qual é o lugar de um desafinado?

[in Odi Profanum Vulgus]

sábado, julho 05, 2003

Esclarecimento

Li agora um post da Causa Liberal em que o Odi é referido. Como já expliquei preocupa-me a chalaça de Berlusoni, mas gostava de esclarecer que também me preocupa que a esquerda classifique com o epíteto de fascista ou nazi todos aqueles que não pensam como eles.
Para encerrar o assunto gostava de manifestar a minha incompreensão pela posição de defesa de Berlusconi que liberais e direita assumem neste caso.
Se por um lado agradeço os esclarecimentos de JPP no Abrupto acerca deste caso, por outro, não penso que a melhor forma de defender as ideias da direita seja transformar este senhor em mártir da instalada cultura de esquerda dos nossos (europeus) media.
As vitimas dessa cultura instalada somos nós todos que repetidamente somos desinformados pelos orgãos de informação.

PS: A Causa Liberal diz que o nome deste blog pode "hostilizar alguns leitores", eu concordo, mas tenho esperança que tal não aconteça. Também por isso lhe agradeço a referência.

[in Odi Profanum Vulgus]

sexta-feira, julho 04, 2003

...

Hoje estou sem vontade de pensar. Sem vontade de escrever.
Mas algo preocupado com o temor de P. do Guerra e Pas, cito com ironia:

"A única atitude digna de um homem superior é o persistir tenaz de uma actividade que se reconhece inútil, o hábito de uma disciplina que se sabe estéril, e o uso fixo de normas de pensamento filosófico e metafísico cuja importância se sente ser nula."
Bernardo Soares
(Assírio & Alvim, aproveito e agradeço a esta editora o trabalho de publicação do Poeta)

[in Odi Profanum Vulgus]

quinta-feira, julho 03, 2003

Não percebo

Talvez o defeito seja meu, talvez a inocência seja esse meu defeito. A discussão sobre o "incidente" entre a esquerda alarve e o alarve Berlusconi que pulula um pouco por todo lado (alguns blogs com posts a este propósito: abrupto, causa liberal) perde-se do ponto que para mim é fundamental. O Primeiro Ministro italiano e Presidente "Rotativo" da UE usou, ainda que para responder aos insultos de que estava a ser alvo, uma chalaça com o tema do Holocausto.
E é isso que eu não percebo. Como pode um politico, ainda que tão imbecil como este, usar como tema de insulto parlamentar um tema que pela sua importância merece ser reflectido e não banalizado desta forma.
Eu não sou um fan do politicamente correcto, não sou um fan das "turbas" de esquerda que dentro e fora dos parlamentos usam o insulto e o grito como forma de acção politica, mas ainda assim não compreendo como é possível ninguém se mostrar sensível a esta banalização do horror da história recente da nossa Europa.
Não percebo mesmo.

[in Odi Profanum Vulgus]

Le Tour

Vai começar no dia 5, sábado, o Tour 2003.
Correndo o risco de fazer inimigos o Tour será assunto rotineiro neste blog durante as próximas semanas.

A quem interessar:
O site oficial Le Tour
E atenção ao post do Submerso sobre essa lenda viva, e protagonista do Tour, Lance Armstrong.

[in Odi Profanum Vulgus]

Da escrita

Dois dias depois de entrar aqui na blogosfera o meu respeito por todos aqueles que vivem da escrita, que já era muito, não para de aumentar.

[in Odi Profanum Vulgus]

quarta-feira, julho 02, 2003

+ 1 Artigo

Acabei agora de ler o artigo de Jorge Miranda no Público de hoje.
Bastante esclarecedor e merece ser lido.
Cito:
"Estudar e discutir a "Constituição" europeia e as suas implicações para o Estado Português, eis o que deveria preocupar e ocupar a classe política, a comunicação social, os universitários e os cidadãos em geral." ( E os bloggers, acrescento eu)

[in Odi Profanum Vulgus]

A Liberdade e o Medo

A propósito de um post do sócio[B]logue.

A vida em sociedade leva a que os indivíduos encontrem protecção uns nos outros, ou cada um deles nessa emanação de todos que é o estado. As sociedades humanas parecem ter surgido dessa necessidade/desejo.

O lado oposto dessa necessidade/desejo é a liberdade. Liberdade de pensar e agir de forma autónoma do grupo e do estado.

O meu ponto é que a liberdade tem como efeito secundário excluir esse factor de protecção.

Não é pois de admirar que o indivíduo actue sempre tentando conjugar esses dois elementos: liberdade/protecção.

E assim, vemos o livre-pensador procurando o aplauso do público, o génio literário em busca da aprovação do grupo e o blogger pretendendo tudo isso, através dos gráficos de acesso, da interactividade e dos links recíprocos.

A liberdade a que a maioria de nós ambiciona tem, oculto pela bruma, esse desejo de pertença e de protecção.

[in Odi Profanum Vulgus]