sublinhar

terça-feira, agosto 31, 2004

Alfabeto del mundo

En vano me demoro deletreando
el alfabeto del mundo.
Leo en las piedras un oscuro sollozo,
ecos ahogados en torres y edificios,
indago la tierra por el tacto
llena de ríos, paisajes y colores,
pero al copiarlos siempre me equivoco.
Necesito escribir ciñéndome a una raya
sobre el hilo del horizonte.
Dibujar el milagro de esos días
que flotan envueltos en la luz
y se desprenden en cantos de pájaros.
Cuando en la calle los hombres que deambulan
de su rencor a su fatiga, cavilando,
se me revelan más que nunca inocentes.
Cuando el tahúr, el pícaro, la adúltera,
los mártires del oro o del amor
son sólo signos que no he leído bien,
que aún no logro anotar en mi cuaderno.
Cuánto quisiera, al menos un instante
que esta plana febril de poesía
grabe en su transparencia cada letra:
la o del ladrón, la t del santo
el gótico diptongo del cuerpo y su deseo,
con la misma escritura del mar en las arenas,
la misma cósmica piedad
que la vida despliega ante mis ojos.
Eugenio Montejo

Absurda(mente)

Tenho em frente da minha janela dois edifícios antigos, um deles foi recentemente recuperado o outro está bastante degradado. Não gosto nada do edifício recuperado, tem o mesmo aspecto de todos os edifícios que foram recuperados nesta cidade nos últimos anos e nunca deixarei de achar ridícula esta máscara que puseram nestas casas. O outro, por seu lado, fala connosco em cada centímetro da sua fachada, interpela a nossa memória, respira individualidade. Brevemente irá fazer parte desse grupo de fachadas gémeas, ao que parece recuperadas tendo em conta as suas características históricas. O sonho de alguns deve ser ter uma cidade em que todas as casas se assemelhem. Eu continuo a preferir a casa ridícula baseada na fantasia louca de um qualquer emigrante, pelo menos ao olhar para ela sabemos que o mundo também é feito de pessoas e não só de burocratas.

Caminho lento, palavras pequenas, um raio de sol

Nunca sei se gosto do barulho do trânsito ou se preferia o cantar dos pássaros nestas ruas do centro da cidade. Entretém ver as pessoas que passam, um mar de rostos repetidos porque quase todas elas, tal como eu, percorrem estes mesmo caminhos todos os dias. E agora, no segundo andar de um edifico degradado que se projecta de vez em quando sobre os outros (literalmente) continuo a apreciar esses movimentos contraditórios. Há quem chame destino a passar pela mesma rua todos os dias, em direcção ao mesmo emprego e de novo para a sempre igual casa. Há quem consiga sentir que tudo se resume a isso. Talvez seja verdade. Para quê procurar mais se tudo é tão provisório. Como se um dia fosse possível encontrar a verdade sobre um facto qualquer. Eu, por mim, insisto em perguntar, vezes sem conta, e não me sinto capaz de abdicar disso. Só porque sim, simplesmente.

Imagem do silêncio


Van Gogh, Half Figure of an Angel

Apetece-me, sei lá, existir

Pergunto-me: com quantas perguntas se faz uma resposta?
O movimento no silêncio da noite e um gato que passa em busca de comida. Não sei porque gosto do movimento contraditório das palavras. Talvez pelo mesmo motivo que me faz estar triste quando deveria estar feliz.
Aguardo que aconteça algo que nunca acontece sempre: no silêncio da noite alguém se aproxima e diz: Luís. Como se uma palavra fosse também a chave de um mistério. Um nome que significa pouco mais que a presença de um corpo.
Se penso ocorre-me perguntar: onde estão as tardes de verão de há muitos anos?
Deveria escrever: Estou alegre porque tu existes. Mas não é só isso.
Aqui, este espaço físico subsiste para além das palavras e tudo passa por mim num encandeamento de memórias, sonhos e perguntas. Hoje e amanhã e outra vez hoje e amanhã, não sei. São demasiados dias repetidos. Apetece-me estar longe e existir longe. Apetece-me tudo. Apetece-me, sei lá, existir…

segunda-feira, agosto 30, 2004

Peso

De repente o dia leve transforma-se, e algo ergue uma fronteira no movimento das palavras. Digo apenas aquilo que possa ser confundido com outra coisa. Sabes, há uma palavra que carrega sempre um peso específico: a palavra “eu”.
Hoje estou para lá da metáfora.
Encontro-me a meio da noite na janela olhando a rua onde passeiam dois morcegos, fumo. A memória da leveza ainda me faz sentir o ritmo da música sul-americana que deixei a tocar no rádio lá dentro, mas a consistência com que sinto cada milímetro da minha existência deixa-me confundido.
São nove vírgula dois metros por segundo, é o peso ou a leveza? Para onde? Quando?

Template

A mudança de template mais uma vez levou consigo os comentários. Cumpre-se a tradição.

domingo, agosto 29, 2004

Este é o caminho dos sonhos, palavras.

Este é o caminho dos sonhos, palavras. Como quando me invade o sentimento de que toda a minha vida até hoje não passa de um prólogo demasiado longo de um livro demasiado complicado. E depois mais palavras, como numa tarde de sol em que conversamos apenas sobre nada com a vaga sensação de podemos, ou será poderíamos?, qualquer coisa de indefinido. Ou então, e isto tenderá a ser mais importante, ou mais importante que tudo não sei, como quando a tua voz invadiu o espaço profundo e frio do Inverno e eu soube tantas coisas diferentes que talvez não soubesse nada então. Ou hoje, como qualquer outro dia que existe independente de tudo, e as palavras se evadem em silêncio cruzando a fronteira de um gesto. O que sei agora alguns meses depois? Descubro que a morte existe mais perto de tudo, descubro que as muitas e tão subtis coisas do sentimento se confundem em cada segundo que passa, descreio no eterno (para sempre?) e que hoje é o dia, simplesmente isso. Estas palavras são o caminho do sonho mas também o rasto até ele, a poeira de futilidades e dor por baixo da felicidade. Só a felicidade, aliás, não sei ainda o que é.

quinta-feira, agosto 26, 2004

...


quarta-feira, agosto 25, 2004

...

Calendário

O escritor tem à sua frente um calendário, mês de Agosto de 2004, uma figura: um avião sobrevoando o mar. O escritor pensa no decorrer dos dias, analisa um a um tentando atribuir-lhes um significado. Não consegue e por isso imagina um romance. A história do romance começa no dia 1 de Agosto de 2004, e termina no dia 31 de Agosto de 2004. O escritor vê a personagem principal, uma mulher ainda sem nome, parada numa estação de metro, são vinte e duas horas e vinte e dois minutos do dia 1 de Agosto de 2004, na estação apenas se encontra a mulher. Ela tem um leve vestido branco, sandálias também brancas, vem da direcção da praia pensa ele (ele é o homem, também ainda sem nome) que entra neste momento (são vinte e duas horas e vinte e dois minutos do dia 1 de Agosto de 2004). Agora estão os dois frente a frente, um em cada um dos lados da estação. A carruagem que ela espera aproxima-se, ela entra, e parte. Ele fica só. Nesse momento, são vinte e duas horas e vinte e quatro minutos. Um minuto depois entra outro homem na estação, há uma ténue troca de olhares, sentam-se. Chega a sua composição, pára, eles entram, e parte. Eles, o homem e a mulher, vão se encontrar de novo apenas no dia 31 de Agosto de 2004, ele estará deitado numa cama de hospital vítima de um atentado, ela passará pela sua cama no preciso momento em que ele morrerá, serão vinte e duas horas e vinte e três minutos do dia 31 de Agosto de 2004. Apesar de se olharem por um momento nenhum dos dois se reconhecerá. O romance acaba aí. O escritor pensa: é apenas um mês, duas pessoas, uma cidade, uma história. Escreve ainda: E se um dia o teu pesadelo se transformar em vivida realidade, queres uma flor azul sobre o teu túmulo vazio?

terça-feira, agosto 24, 2004

Eu, não


Pastora de nuvens, por muito que espere,
não há quem me explique o meu vário rebanho.
Perdida atrás dele na planície aérea,
não sei se o conduzo, não sei se o aompanho.

(Pastores da terra, que saltais abismos,
nunca entendereis a minha condição.
Pensais que há firmezas, pensais que há limites.
Eu, não.)
Cecília Meireles

Bogart, outra vez



Humphrey Bogart
Era a cara que tinha e foi-se embora
mas nunca foi tão visto como agora
O seu olhar é água pura água
devassa-nos dá nome mesmo à mágoa
Ganhámo-lo ao perdê-lo. Não se perde um olhar
não é verdade meu irmão humphrey bogart?
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]

sexta-feira, agosto 20, 2004

Memória #3

“Sem memória esvai-se o presente que simultaneamente já é passado morto. Perde-se a vida anterior. E a interior, bem entendido, porque sem referências do passado morrem os afectos e os laços sentimentais. E a noção do tempo que relaciona as imagens do passado e que lhes dá a luz e o tom que as datam que as tornam significantes, também isso. Verdade, também isso se perde, porque a memória, aprendi por mim, é indispensável para que o tempo não só possa ser medido como sentido.”
José Cardoso Pires, De Profundis – Valsa Lenta

quinta-feira, agosto 19, 2004

Memória #2

"Ele pega noutra folha em branco. Coloca-a na mesa à sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta.
Foi. Nunca mais voltará a ser. Lembra-te."
Paul Auster, Inventar a Solidão

Memória #1

“«O poder da memória é prodigioso», observava Santo Agostinho. «É um santuário imenso, imensurável. Quem poderá sondar as suas profundezas? E, no entanto, é uma faculdade da minha alma. Embora faça parte da minha natureza, o certo é que eu não posso compreender tudo aquilo que sou. Isto significa, portanto, que a mente é demasiado estreita para se conter inteiramente a si mesma. Mas onde está a parte da mente que a própria mente não contém? Estará algures fora da mente ela mesma e não dentro dela? Nesse caso, como poderá fazer parte da mente, se não é contida nela?»”
Paul Auster, Inventar a Solidão

quarta-feira, agosto 18, 2004

Este dia

Eu gosto de dias assim chuvosos em que o sol desponta a instantes. Gosto de passar estes dias entre casa e locais próximos (o quiosque, o café) e deixar-me viver numa modorra típica de quem está de férias sem compromisso nenhum. É certo que o telefone toca de quando a quando e uma voz do território longínquo do trabalho me pergunta isto e aquilo. Mas está tudo tão distante que não passam de interrupções quase bem vindas que dão ainda mais importância a um dia assim, sem nada para fazer. Cai o fim de tarde, e agora sim existem compromissos estivais a cumprir, este descanso profundo acaba e deixa comigo apenas a marca dos momentos simples.

....

"Na busca da verdade, prepara-te para o inesperado, pois é difícil descobri-la e, quando a encontramos, encontramos a perplexidade."
Heraclito

terça-feira, agosto 17, 2004

Caminho(s)

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos

domingo, agosto 15, 2004

Vaquer [2]


Adela
Javier Pérez Vaquer

Vaquer [1]


La Dona Casada
Javier Pérez Vaquer

sábado, agosto 14, 2004

Prata


Foto:www.corvos.nl

Sérgio Paulinho ganhou a medalha de prata na prova de ciclismo de estrada


Voleibol [1]

E assim começam os meus J.O.


(AP Photo/Greg Baker)

Grécia 3 - Kénia 0


Eleftheria Chatzinikou

O espírito olímpico



Os portugueses, e principalmente os jornalistas e políticos, têm para os atletas olímpicos uma atitude absurda. Durante todo o tempo esquecem que eles existem e que se praticam outras modalidades para além do futebol, depois nas vésperas dos acontecimentos importantes pedem-lhes vitórias e medalhas e se eles não o conseguem facilmente os esquecem de novo. Com este espírito nunca Portugal terá grandes atletas para além daqueles que nos dá a sorte e o esforço individual de cada um.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Mais um texto longo, desnecessariamente

Não me lembro quando e porquê escrevi a primeira vez a frase: Gostava de criar uma ilusão e viver nela. Lembro-me que esta frase fazia parte de um diálogo numa história acerca de um homem para quem o tempo não existia, os dias para ele não se desenrolavam pela ordem habitual, quase como se lhe tivessem sido dados uma quantidade de dias para viver mas estes em vez de seguirem uma sequência lógica, ou pelo menos habitual, eram vividos de forma completamente aleatória, hoje tinha 12 anos amanhã tinha 34, hoje era agosto amanhã novembro. Bem isto a propósito da frase, que na altura, confesso, tinha um significado mais utópico do que aquele que hoje lhe posso atribuir, agora a frase assume um alarme mais prático, é que tantas vezes sou tentado a "fugir" para uma qualquer ilusão que me proteja daquilo que quero que convém recordar constantemente que só possuímos realmente aquilo que realmente queremos. Ainda anda também por aqui a angústia da vida sem sentido desse homem perdido no tempo, sem projecto, sem esperança. Penso muitas vezes que tudo se ressume à experiência e à memória dos momentos felizes e fugazes que vivemos.

Hoje

Talvez hoje, e hoje está um dia lindo para isso, pudesse eu estender a mão para ti e dizer algo assim: talvez entre nós a vida não se transforme nunca na imagem do paraíso, mas a tua voz, e antes dela as tuas palavras, podem sem o querer e ainda mais o querendo transformar em sorriso as lágrimas escondidas sem saber porquê. Mas estas palavras sei-o, apenas tocam ao de leve o indizível e toda a distância ainda existe, por quanto tempo mais?

Ligações

Por vezes, muitas vezes, aquilo que escreves encerra todos os meus mistérios e estando tu tão perto de resposta quimérica a todas as perturbações quase te olho como quem olha um anjo desconhecido que do alto dos céus a nós desce em sua glória para num momento de clarividência universal nos dizer que o segredo de todo o mistério é não haver segredo nenhum.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Desobediência

Apetece-me desrespeitar a natureza e ir mais além, para lá de todos os limites onde a liberdade já nem existe de tão próxima e as metáforas são toda a realidade. Apetece-me romper, em definitivo, com este tempo sonoro em que enclausurado vivo. Apetece-me partir, para sempre, sempre.
De todas as palavras que existem cada por do sol é uma muralha e tu todo o sentido indistinto.

Diário de bordo [1]

Não sei como aconteceu, afinal era apenas mais uma pessoa sentada a uma mesa de café, uma mulher para ser exacto, com olhos verdes...e esse foi o ponto decisivo. Também não sei como nunca tinha reparado que aquela mulher que muitas vezes se senta naquele café tem os olhos verdes. O certo é que hoje reparei, talvez fosse a chuva, estou sem preparado para encontrar uma explicação ilógica para coisas assim. Aconteceu portanto. Entrei no café, ia a ler o jornal, e quando levantei o olhar lá estava a tua cara a olhar para mim. No fundo eram apenas os olhos verdes e algumas coisas mais, no fundo irrelevantes. Estes momentos em que a memória nos assalta e um vislumbre de um felicidade qualquer no acerca deixam sempre este travo amargo de acontecimentos sempre por acontecer e de lágrimas de despedidas sempre-eternas.

segunda-feira, agosto 02, 2004

Na rádio:

As ruas da minha cidade
Abriram os olhos de encanto
Para te ver passar

As pedras calaram os passos
E as casas abriram janelas
Só p’ra te ouvir cantar

Porque há muito, muito tempo
Não vinhas ao teu lugar
Ninguém sabia ao certo
Onde te procurar

Da proxima vez
Não vás
Sem deixar destino ou direcção
Se houver proxima vez
Não esqueças
Leva contigo recordação
E um beijo pendurado
Ao peito do teu coração

Quisemos saber como estavas
Se a vida tinha tomado
Bem conta de ti

Ou se a vida teve medo
E eras tu que a levava
Refugiada em ti

Cada verão que passava
Sentiamos-te chegar
Como era possível que o sol
Se atrevesse a brilhar

Deves trazer tantas histórias
Tantas que algumas ficaram
Caídas por aí
Outras eu tenho a certeza
O teu fogo na alma queimou
Deixaram de existir
Só queremos saber se és a mesma
Que vimo partir
Não existe mundo lá fora
Que te possa destruir

Da Próxima Vez - Luís Represas

Momento

É fácil esquecer-me de escrever um trabalho apenas porque li o que escreveste e me apeteceu fugir daqui, deste lugar-trabalho, onde, perdido, esqueço outras coisas. Ainda assim divirto-me algures no meio desta confusão de pressa rotineira e um sem-sentido tudo-fazer, e escrevo quase como quem se redime. Sem me reler, como quase sempre faço. Gostava de hoje, por exemplo, ser espiritual, para que tudo isto fizesse sentido, um qualquer sentido, sentido-nenhum. Estou aqui, e aqui é longe. Mas nem tudo é esta…sonolência?...que caminha. Hoje estou, podem reparar, algures parado no meio de nada julgando poder encontrar alguma coisa em lado nenhum. Tantas palavras são assim propositadamente montadas apenas porque o jogo dos meus dedos com o teclado me diverte e saber que nem tudo existe aqui neste espaço físico m e faz bem. Hoje imaginei-te a sorrir, talvez por causa de alguma coisa do que escreveste. Não sei, não entendo, não te entendo. Sei que estou longe, será que cada vez mais longe? Também isso não sei. É fácil fazer do quotidiano o palco de todo o esquecimento, é ainda mais fácil quando todos nos solicitam para tudo e a memória insere-se também no espaço do terrível. Este ano tem sido pródigo em acontecimentos e o tempo não é de reflexão. Se pensasse explodia. Portanto agora….agora é apenas tempo de um minuto para a frente um minuto para trás…o espaço confinado do silêncio.
Gostava de romper esta barreira mas não sei quando nem como….