sublinhar

sexta-feira, janeiro 28, 2005

still on my mind...

And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
(...)
Damien Rice - "The Blower's Daughter"

ainda hoje...


fim-de-semana...

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Para hacer funcionar a las estrellas

Para hacer funcionar a las estrellas es necesario apretar el botón azul.

Las rosas están insoportables en el florero.

¿Por qué me levanto a las tres de la mañana mientras todos duermen? ¿Mi corazón sonámbulo se pone a andar sobre las azoteas detectando los crímenes, investigando el amor?

Tengo todas las páginas para escribir, tengo el silencio, la soledad, el amoroso insomnio; pero sólo hay temblores subterráneos, hojas de angustia que aplasta una serpiente en sombra. No hay nada que decir: es el presagio, sólo el presagio de nuestro nacimiento.

Jaime Sabines

Awake

Awake.
Shake dreams from your hair
My pretty child, my sweet one.
Choose the day and choose the sign of your day
The day’s divinity
First thing you see.




[este é um post de natureza
circular...
vai e volta...
serve para manter
o autor
acordado]

Wake up!

Wake up!
You can't remember where it was
had this dream stopped?

finalmente...

...dormir.

a impressora imprime...

...enquanto eu, sem nada para fazer, ouço o vizinho a cantar.

[a true story - don´t ask]

desabafo

Não me apetece trabalhar. Mas tenho que escrever um relatório. Só depois posso dormir. Tomo café. Fumo muito. Não me apetece trabalhar. Apesar de saber que mal acabe posso dormir.

Não me apetece.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

leaving depression at home...



[o cd do dia...podia-me dar para pior]

um retrato do impossível

duas e dezanove da manhã. o trabalho acaba por hoje. antecipo o prazer do sono mas não me movo. escrevo.

...um texto apagado pela manhã...

terça-feira, janeiro 25, 2005

enraizamento imperceptível. de uma mão. de outra mão.

uma mão. outra mão. como se as duas, juntas, segurassem o mundo. e devolvessem à noção de espaço o seu sentido supérfluo.
ou, como se ambas, se segurassem, apenas, uma à outra. tudo, a partir daí, fazendo sentido, existindo. como se não fosse preciso o mundo nos comunicar qualquer lógica. ou, apoderar-se dos nossos sentidos. existem: **uma mão. na. outra mão. a medida exacta. num enraizamento imperceptível
de uma mão. de outra mão.**

[pausa]
regresso a um lugar frio.
na esfera do tempo, regresso a ele muitas vezes.
[pausa]

agora. por exemplo. daí a importância de existirem duas mãos. que se interceptam no espaço todo. em volta. como se, residisse nelas, a sombra do impossível.

[pausa]
regresso a um lugar frio.
a uma desesperança anterior a todas as coisas.
[pausa]

mas encontro. sempre. uma mão. este é um segredo maior que as palavras. tudo ser tão simples: uma mão. outra mão...

com muitas palavras da **Blimunda** e algumas minhas.

domingo, janeiro 23, 2005

colagem

incluo aqui, absurdamente, os sinais do corpo. essas tatuagens de que não vos posso falar. memórias inscritas na textura da pele, no respirar, na pausa antes de chorar. como dizer que há músicas gravadas no lugar onde existem os meus braços, junto a eles, como sinais vibrantes de uma história. minha. como falar dos orgasmos que ainda respiram no meu corpo, como no poema, no passado.
ruínas. como as de um texto sobre um prisioneiro dos seus gestos.
fico horas entre as palavras. leio. como se fosse um movimento do corpo.
incluo aqui os sinais do corpo. essas memórias tatuadas na nossa pele. como quando esbarramos contra a ponta da mesa de vidro ou, simplesmente, olhamos a meio da tarde a mulher do passado que passa, presente, na rua.
a memória existe colada ao nosso corpo. outro orgasmo, o pedaço de tabaco num cigarro sem filtro, as lágrimas, outras lágrimas, o riso e a letra de uma música.
incluo aqui os sinais do corpo. impulsos eléctricos. de repente choro apenas porque sim, esse é o momento. ou rio. tanto faz. penso com palavras emprestadas: “para compreender, destruí-me. compreender é esquecer de amar.” é só isso. penso. persiste a véspera de despertar. como persiste a vontade, irresistível, de escrever.

sábado, janeiro 22, 2005

nem sei se estas palavras

precisava de palavras. muitas palavras. para completar o caminho de circum-navegação da amizade. de regresso a ti. calado. despido das palavras supérfluas. para dizer não mais nem mesmo que Isto. a importância de um ombro que toca um ombro. ou de um beijo. como quem diz que a vida inteira será certamente uma curta eternidade para a intimidade. mudo. direi, no sitio em que no futuro se inscrevem esses gestos, apenas que Isto, acontece antes e depois de tudo. sobretudo em nós. os dois. habitando um mundo repleto de sentidos. aconchegados. dentro de uma nuvem azul. sonhando que a realidade existe como uma bênção.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

nove e meia...

chego a casa. sem ter realmente forças para sair. amanhã é sábado. trabalho. hoje o dia foi, todos concordaram, péssimo. decidimos sair porque começamos a achar que a continuar assim nos iamos matar uns aos outros. amanhã regressamos.

cresce dentro de mim a certeza sobre a incerteza.

é o meu corpo que reage a este arrepio, com medo. descobre-se. talvez exista alguma ligação entre este sol, que aquece, e o arrepio de frio que percorre o corpo como um electrochoque. um arrepio que nem sequer tem a dignidade da gripe. apenas do grito. metáfora. não me apetece, propriamente, fazer sentido. não me apetece, propriamente, existir. agora. gostava que a pausa para o café fosse realmente uma pausa da vida. deixar de existir por quinze minutos. neste momento. não sei. as certezas...bom...as certezas carecem da improbabilidade. gosto do caos, dos padrões empreendidos (havia de ser compreendidos se houvesse compreensão) com um esforço aturado. de quem empreende, logicamente. eu, hoje, não empreendo. rio-me apenas de repetir tão longínqua palavra. o dia parece não acabar. se acabar haverá outro dia, amanhã. o que é bom. mas agora sinto isso como um excesso de racionalidade. até estar vivo, até isso, me parece a felicidade apenas como um esforçado optimismo. há dias assim...em que o quotidiano (o trabalho) nos corrompe o sonho até ao seu âmago. ficamos longe do mundo. gritamos. mas não se ouve.

um dia desejei. digo. quis. cair. levemente. sem que me doesse, sobretudo, não doesse a ninguém. hoje, nem tanto. desisti de desistir. para sempre. sabem? sente-se falta dessa evasão. agora que tudo que quero é não me perder, descubro vezes demais que não existe um caminho de onde nos possamos perder.

o mundo todo tem a consistência de um fio pendurado entre dois prédios. equilibrista me vejo. parado. aí reside toda a possibilidade da queda: na ausência de movimento.

[acabo a dizer: este post não merece ser lido. ou, sequer, escrito. são palavras do quotidiano inadmissível de quem trabalha sem tempo para pensar. e da necessidade de pensar. sobretudo, e antes que perguntes, são também palavras de quem se sabe sustentado, nesse caminho, pela amizade. e assim, de certo modo, mente a angústia, ou mentiria, se não a sentisse.]

[ainda: é este lugar. precisamente. na sua incrível trajectória para fora do mundo. nada do que é exterior a estas ruas físicas onde circulo me provoca essa náusea. é aqui. ou antes, é este quotidiano infindável. o sentimento de desalinho. de iminência de queda]

[ou, simplesmente: seria impossível confundir o dia de hoje com uma conversa. o dia, físico, existe no metafórico frio. a conversa reside, sempre, no lugar onde a amizade segura o nosso corpo do desequilibro, e nos aquece.]

quarta-feira, janeiro 19, 2005

contributo para um conhecimento ambíguo do homem que escreve [1]

“O comandante olhou para Fermina Daza e viu nas suas pestanas os primeiros pingos de um orvalho de Inverno. Depois olhou para Florentino Ariza, o seu domínio invencível, o seu amor impávido, e ficou assustado pela suspeita tardia de que é a vida, mais do que a morte, que não tem limites.
- E até quando pensa o senhor que podemos continuar neste ir e vir dum caralho? – perguntou-lhe.
Florentino Ariza tinha a resposta preparada há cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com todas as suas noites.
- Toda a vida - disse.”
G. G. Marquez – “O amor nos tempos de cólera”

[mesmo depois de ter comprado uma nova edição, a outra perdeu-se algures, estas palavras continuam sublinhadas. o desejo de um happy end eterno, confesso]



Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca


cesariny

[se parece tanto que te estou a relembrar o convite, é porque estou mesmo]

antes de adormecer

... a voz de caetano

...a ironia nas páginas de um livro


...e o mundo volta a encaixar no seu lugar.



[de dois minutos e meio de irritação, ficam as palavras anteriores]

terça-feira, janeiro 18, 2005

A palavra, vida inteira, mata. *

é triste o que acontece a cada palavra mal ela deixa de ser o desejo de a dizer e se consubstancia numa presença física…olha-nos…fere-nos…gira à nossa volta…e viaja até onde não pensávamos ser possível ela viajar. já tentaram prender uma palavra naquele momento crucial em que ela depois de formada nos escapa pela boca, ou pelos dedos no papel? ou então, já sufocaram as palavras no momento antes desse, quando elas ameaçam formar-se, dentro de nós? de nada serve correr atrás delas…tentar conter o que com elas vai.
as palavras guardam o segredo da erosão…da nossa erosão. faz bem o mundo, em girar entre imagens, gestos, corpos, sabores. faz bem o mundo todo, em voltear por sobre o cheiro a carne assada no fogão. nada disso corrompe tanto esta massa de que somos feitos como as palavras. essa é verdadeira erosão. posso bater com a minha mão na madeira…vezes sem fim…com urgência…chamando por alguém, que virá, certamente. nada disso fará com que a minha mão se modifique, os seus ângulos rigorosos manter-se-ão. mas as palavras…transportam demasiado de nós a lugares onde nunca existem.
talvez isto seja incompreensível…eu, por exemplo, penso em dois corpos nus, deitados numa cama, suando no calor do verão, fodendo com ódio (para quem não sabe isto às vezes acontece)…isso é certamente, uma coisa capaz de se gravar na memória física do que somos…mas, em comparação, as palavras…todas elas…incluindo as nunca pensadas…ameaçam contra nós…contra o sono…a vigília…a serenidade…a memória…o corpo…como se fossem mais que uma presença…como se fossem, sempre, em cada palavra, todas as palavras.

* Manuel António Pina

segunda-feira, janeiro 17, 2005

un día

lembro-me que tinha medo de não te reconhecer se passasse por ti na rua. ao mesmo tempo achava, desde um desses primeiros minutos, que se isso acontecesse sem que o soubéssemos, o mundo todo iria pressentir que alguém, nós dois, estaria a ocupar o espaço implícito dos sonhos. esse é o espaço. como quando penso que tu já estiveste aqui nesta sala em que escrevo, na outra sala ali ao lado, no café ao fundo da rua, na minha cama…em todo o lado. consigo ver-te aqui, nos muitos momentos em que te quero dizer alguma coisa. coisas simples, de um filme que vi, de um texto, um poema, ou só de uma história qualquer no emprego. tu existes mais vezes do que pensas. e em mais lugares. por exemplo: um dia de março, eram seis da tarde, ia a caminho do café como quem chora, chovia, e de um longo silêncio apareceste tu. como um sonho. chorei encostado ao teu ombro. como se fosses uma invenção minha para que eu pudesse existir. um dia também estiveste perto de chorar mas se bem me lembro, interrompeste-te, e mandaste-me à merda, delicadamente. mas sabes? é sobretudo o riso, o sorriso, a infinidade de palavras não ditas. um dia, vamos dizê-las? fazes-me pensar que o mundo ainda é um lugar onde o sonho existe. e a beleza, assim, sem mais. simplesmente.

domingo, janeiro 16, 2005

hoje ouviria o silêncio...



…se não houvesse joão.

artifícios da memória

A minha não chegada à estação de N.
ocorreu pontualmente.
W. Szymborska

Se em dado momento tentamos, sem conseguir, fossilizar o que antes, devagar e apreensivamente, confiamos a nós próprios, somos tentados a esquecer pormenores que nunca existiram até ao momento em que recordando, os criamos. Essa surpresa, se não nos confunde no exacto momento em que nos atinge, irá ser causa de apreensão doravante, nas esquinas do caminho, quanto, tacteando, procuramos encontrar-nos.

...

As palavras surgem não para mover o mundo
mas para deslocar um pouco a posição do silêncio

["as palavras" - antónio ramos rosa]

sexta-feira, janeiro 14, 2005

um novo olhar...


Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso

["divino maravilhoso - caetano"]

fragmentos de poesia(?) quotidiana

na repartição de finanças
do 6.º bairro fiscal do porto...
...dois pássaros, numa gaiola, cantam.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Queria escrever-te um guia para o mundo da evidência*…

…mas tudo que sei são palavras confusas: os versos de um poeta: um homem e uma mulher que tinham olhos e coração em forma de ternura e souberam entender-se sem palavras inúteis**; ou quando penso: espero por ti durante a noite na ânsia de descobrir que existo; e não falo, sobretudo nunca falo. mas existem palavras exactas: uma imensa vontade de te abraçar. e já estou farto de perguntar: como posso eu amar-te, se nem sei***…

*Nuno Júdice; **Daniel Filipe; ***António Franco Alexandre

a música destes dias


quarta-feira, janeiro 12, 2005

[pub.]

organizei o meu próprio sequestro

[em vez de comentar, recomendo - divertido, engenhoso e em galego (este link tb foi descoberto lá)]

terça-feira, janeiro 11, 2005

Quotidiano [2]

Os erros informáticos incomodam. provavelmente porque já confiamos demasiado nestas coisas. agora é o acesso a um grande número de páginas que se tornou impossível nos computadores da empresa. infelizmente maior parte dos blogs que leio estão entre essas páginas. também há algumas que utilizo com frequência para trabalhar, e a irritação aumenta. estou farto de estar uma manhã inteira a ler “não é possível estabelecer ligação ao servidor”, e saber que deve haver alguma coisa muito simples que se possa fazer para evitar este incómodo, mas não fazer a mínima ideia o que é. A propósito, esta página é precisamente uma das que não consigo visualizar.

sábado, janeiro 08, 2005

os olhos azuis

Foi por essa altura que soube que eras prostituta domiciliada nas casas de banho de um centro comercial decrépito. Talvez por isso, naquela tarde, julguei encontrar um riscar incompreensível no teu olhar, nos teus olhos azuis, nos teus lindos olhos azuis. Não me aproximei, não faria sentido recordar uma conversa banal numa tarde que tinha acabado há muito. Lembro-me de a pele entre os teus dedos conter um sem número de marcas de agulha. Nessa tarde sorrias, não me lembro porque motivo. Acordaras há pouco, tinhas o cabelo molhado e, acho, anunciavas ao mundo, orgulhosamente, que morrias. Lembro-me de pensar isso. Falavas com alguém, estavas precisamente a comprar droga, foi por isso nós, ali ao lado, ficamos em silêncio. Quando te sentaste para beber um café limitei-me a sorrir, lembro-me bem. Não disse uma única palavra. É tão estúpido recordar agora esse sorriso. Sorri porque eras linda e isso bastava, bastava contra tudo. Nem sequer o teu nome lembro, devo ter sabido, senão naqueles dias, pelo menos no tempo em que ainda conversávamos sobre coisas banais. Agora, a tua voz deixou de ecoar há muito, só restam os teus olhos azuis e o teu sorriso e uma ideia da tua morte, sozinha, no teu quarto. Seria fácil perceber que sonhavas com algo mais do que uma dose de droga e uma noites absurdas em que, lembro-me, choravas muito. Havia alguém, já não recordo quem, que servia de vigilante a essa tua descida ao inferno. Eras tão linda, absurdamente linda, sempre, mesmo depois de um ano inteiro consumindo droga, bebendo, e fazendo sei lá aquilo que fazias. Aparecias e desaparecias como um relâmpago. Provocavas o mesmo susto, o mesmo espanto, o mesmo fascínio pela beleza. Um dia qualquer disseram-me que morres-te. Tiveram que me explicar por tal e tal, porque ninguém lembrava já o teu nome. Estúpidos, repetíamos que não fazia sentido, eras demasiado bela para morrer. Só isso. É absurdo lembrar que morremos todos um pouco nesse dia e nem sabíamos o teu nome. Chegavam os teus olhos azuis e uma alegria, que não sei de onde vinha, nos poucos momentos em que estavas sóbria. Como naquele dia, o último em que te vi: tinhas o cabelo molhado, olhavas o mundo com os teus grandes olhos azuis e sorrias. Havia uma infinita inocência naquele olhar.

[um dia morreremos todos outra vez, nas páginas de um livro]

sexta-feira, janeiro 07, 2005

só não podemos estar em dois sítios ao mesmo tempo

penso muito nisso: haver apenas um lugar onde estamos em cada momento. por exemplo, há pouco estava no café, a rir, mas havia a incógnita sensação de que não era ali esta alegria. ou também este temor, mas que interessa isso. tenho medo que das palavras entendam apenas as palavras. há mais, muito mais. como ser acordado por uma mensagem no telemóvel e perceber que devia haver espaço para mais um abraço. tenho medo de esquecer algumas palavras, esquecer-me de as dizer. talvez tudo isso resulte da perda, não sei. estar aqui a escrever não é estar aqui a escrever, é mais. é, sobretudo, não estar aqui. outra coisa, já que é precisamente aqui que não estou, estarei sempre aí, quando quiseres, quando precisares, sempre. não deixarei que chames por mim, estarei, sempre que me queiras. tanta coisa, não é?
custa-me não poder estar em dois sítios ao mesmo tempo. dói-me, assim mesmo, sem sentido. como se os limites fossem algo que existe só para nos privar de um beijo. vês? não se pode mesmo escrever quando a cada palavra repito a mim mesmo, para que saiba, não estás aqui. é isso tudo que existe ou, precisamente, não existe.

só tu tens o poder de me reduzir a estas palavras desconexas

o único lugar que concebo para te falar é a perfeição. haveria um voz, a minha, e um olhar, o teu. tanto, acredito, bastaria para desatar os nós que retêm as palavras algures no preciso momento de serem ditas.
hoje dormi pouco, o quotidiano enche de areia as engrenagens do sonho, mas persisto, sempre, um minuto apenas antes de falar, na busca de ti. acredita-me quando te digo que não saberia escrever, que não o sei fazer, há algo de intangível nas palavras que procuro. como neste momento antes das palavras, que pode durar uma breve eternidade ou apenas um segundo, mas que não pode durar para sempre. estas palavras não apagam esse silêncio, nem o substituem, são antes uma maneira estúpida de dizer não dizendo: amo-te.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

um dia seremos julgados pelas palavras que guardamos

Anda comigo ver o que acontece quando as palavras deixam de existir. Vamos desistir, por um momento, dessas palavras, porque com elas navegaremos sempre neste espaço véspera de alguma coisa que tanto nos magoa. Prometes-me que vens? Regressaremos às palavras apenas quando os nossos corpos decidirem qual o destino que existe. Promete-me, e promete a ti mesma, fundamentalmente a ti mesma, que vamos tentar. Vamos marcar um encontro num lugar vazio de tudo para que, por momentos, apenas tu e eu existamos.
Pareces-me feita da matéria dos sonhos. E só tu tens o poder de me reduzir a estas palavras desconexas. Mas gosto delas, porque são as únicas capazes de rasgar a mudez que o medo de te perder me provoca.
Tenho medo de descobrir que não posso viver sem ti, mas seria estúpido deixar qu isso me travasse. Quero-te. Não daqui a um milhão de anos, mas agora. Vem!

on the road to neverland... [palco b]

[avança, nua, até ao centro do palco]
[o silêncio]
ela: nunca preparei palavras para este momento...julguei ter dito tudo...agora, apetece-me voltar atrás e acentuar esta e aquela palavra com uma timidez diferente, amorosa... apetecem-me também outras palavras...
[o silêncio]
ela: sempre pensei que este fosse um momento silencioso...ou que gritasse...ou que houvessem vozes na penumbra gritando para que não parta....
[as vozes na penumbra]: vai...vai...vai.
ela: nunca acreditei verdadeiramente que estivesse sozinha...disso me tentei convencer a mim mesma durante tanto tempo... mas nunca acreditei verdadeiramente....
[o silêncio]
ela: sempre quis que estivesses aqui comigo...talvez pudéssemos ter feito isto os dois...de mãos dadas.
[as vozes na penumbra]: ele partiu há muito nos braços de outra mulher....vai...vai....vai.
ela: não há eloquência que supere estes gestos definitivos...mas se me perguntarem o que quis dizer com isto...saibam que não sei.
[cais]
[a música: ]
[imagem projectada: os olhos azuis]

The GetAway Project, 2004/05

terça-feira, janeiro 04, 2005

vês aquela árvore, ali / a caminho do mar? [2]

Recorreremos à metáfora como quem pede desculpa

Um dia, julgando mentir, falaremos do amor como metáfora dos corpos que se entrelaçam na tua cama.

Será esta uma boa altura para mentir?

Não há um tempo exacto para que eu descreva a órbita em redor do mundo e regresse a ti. ou o contrário. logo nos despedimos. havemos de morrer junto dos nossos sonhos, por isso nunca adiamos a partida, ou esperamos o tempo suficiente para mentir.

Havemos de ser julgados como loucos

Durante os intervalos breves de cada paixão, minha, tua, enchemo-nos de sorrisos. como se a felicidade nos parecesse palpável por acontecer no outro. havemos de ser julgados como loucos, se houver julgamentos desses.

Regresso à minha órbita celeste

Retiro-me. em sorriso, nunca em silêncio. a vida vive-se no caminho do sonho, sempre.

vês aquela árvore, ali / a caminho do mar? [1]

Prólogo

O quarto tem uma cama enorme que ocupa quase todo o espaço. a janela, de onde se vêem apenas os telhados de doutras casas, está fechada. julgo que nunca perdi mais de um minuto a espreitar por ela. aqui dentro está frio. deitamo-nos.

O que sabes acerca de mim?

Havemos de nos amar ainda muitas vezes sem que saiba responder a essa pergunta. por vezes perscruto a resposta no teu olhar mas, acredita, não sei. também não te pergunto. não o faço porque, no fundo, não interessa.

O silêncio nunca acontece

Estamos deitados na cama. falamos. sobre um facto vulgar na minha vizinhança. rimos. comemos uvas que trouxemos para o lado da cama, precisamente por isto. as palavras não acabam, nunca.

Acontece-me pensar que não te amo

Devia ter o pudor para dizer que não é o teu corpo, mas não tenho, tu sabes. há algo de falso nesta sinceridade absurda com que vivemos um do outro. acontece-me pensar que não te amo, mas isso seria ajustar os sentimentos à banalidade do acto formal.

Para que saibas, isto não é a felicidade....ainda

Haverá um dia em que, apaziguados, deixaremos de nos procurar. porque esse entendimento benevolente existe, os nossos dias fecham-se sobre si próprios. existem porque existimos, existem em si porque existimos, assim, náufragos, em nós.

Talvez estas palavras percorram outros caminhos

Acontecem na melancolia da tarde, estas palavras. interceptam o local do segredo. tudo que não pode ser transposto para palavras nunca aparecerá escrito. para que saibam: nada de concreto se alcança durante esta leitura.

um lugar [1]

Ambiente: um livro de Nuno Júdice em cima de uma secretaria desarrumada, o teclado preto, estranhamente é Marilyn Manson que canta no rádio.
Pensamento: gostava de te ter dito, ou agora, que penso demasiado em ti. demasiado, pela natureza agreste que a realidade imprime nos desejos. Talvez não compreendas, não sei realmente. Insisto (existo) num silêncio reticente. – estas palavras não são, ainda, esse pensamento.
Acção: fumo um cigarro. com um prazer que raramente acontece. chego a pegar no telefone mas esse é um gesto apenas pensado.

domingo, janeiro 02, 2005

andava eu a perder...

...mas, felizmente, um presente de natal resolveu isso.

no começo: uma manhã fria e o teu corpo

amanhã não sei se terei este tempo, ou sequer estes gestos que abraçam o teu corpo agora. ou este beijo, profundo, silencioso. os nossos sorrisos: bom dia!
tudo lá fora que não existe, não importa.
acordo dois mil e cinco abraçado a ti: estás de costas para mim, ainda dormes, dou-te um beijo nas costas para que acordes, viras-te: sorris.
amanhã não sei se terei o desejo de fazer amor contigo como agora, amanhã não sei quando acordarei de novo nesta cama, abraçado a ti.
tudo lá fora regressará de um momento para o outro.
acordo muitas vezes durante a noite para te olhar, enquanto dormes. não me apetece pensar durante toda a noite.
amanhã existe. levo vestígios de ti no meu corpo. amanhã…existe mesmo.

Let's face the music and dance

De dois mil e quatro guardo a memória de uma separação que persistirá, para sempre, em mim. ainda, e suponho que durante muito tempo, não consegui perceber todas as suas consequências, nem sei se um dia conseguirei. de dois mil e cinco espero, diria apenas mas isso é quase tudo, que ninguém me fuja assim para sempre. só isso é realmente importante, tudo o mais será bom, mau, irrelevante, ou nem será, não faz mal certamente continuarei como sempre: ávido de vida, de fascínio, de vontade.

algures nos arredores da certeza

Há cerca de um mês, durante a hora de almoço e enquanto fazia tempo para um encontro de trabalho, fui tomar café ali para os lados de Leça, e quando saía do café de regresso ao carro surgiu-me do nada uma espécie de memória de um acontecimento futuro: eu mesmo, ali naquela praça, saindo de casa, numa fria manhã de Inverno. percorria a praça no sentido oposto aquele em que ia agora, trazia a chave do carro na mão enquanto levantava a gola do casaco para me proteger do frio e olhava o mar como sempre fiz (farei) quando saio (sairei) de casa.
porque motivo tenho a certeza de que tudo isto acontecerá? não sei, nunca tinha pensado em nada disso, provavelmente durante muito tempo não pensarei, mas um dia estarei ali, precisamente no lugar desse pensamento, numa manhã fria de Inverno junto ao mar.